Milhões de Festa

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Esta semana alguém escreveu no mural do Facebook do Milhões de Festa: "O milhoes é tao giro, até no wc ha triangulos" (sic). Ao fazê-lo, elogiou não só os organizadores do festival com o melhor nome de sempre, mas também os designers que lhe deram uma forma.

O Milhões de Festa (MdF) regressou ao Parque Fluvial de Barcelos no fim-de-semana passado para mais três dias de música, copos, campismo e piscina. Piscina à parte, este poderia ser um entre muitos outros festivais de Verão em Portugal. Mas não é: basta ler a extensa cobertura que o PÚBLICO fez do MdF para saber como um espírito tão alternativo quanto inclusivo e a criação de uma comunidade de fãs e amigos tem feito deste festival o mais hip, hipster e hyped-up do país.

O génio da identidade visual do MdF passa por interpretar tudo isso e passar, de forma hábil, ágil e exemplar, a mensagem do festival nos diversos suportes, meios e plataformas que estão hoje à disposição dos designers de comunicação.

Começa por fazê-lo com uma rara, e louvável independência. O MdF é organizado desde 2010 pela produtora Lovers & Lollypops em parceria com a autarquia de Barcelos, que também o apoia financeiramente em reconhecimento do estímulo que proporciona à cena musical e cultural da cidade. Este apoio público, a dimensão comedida do festival e sua pequena e esforçada equipa têm evitado que os organizadores recorram a grandes patrocinadores privados. E ainda bem, pois estes exigem uma cada vez maior presença na comunicação e publicidade das iniciativas que apoiam - disso são prova os eventos, festas populares e festivais de Verão que nos últimos anos foram perdendo os seus nomes originais e ganhando marcas de telecomunicações, retalho, café ou cerveja.Lamentavelmente.

É no seu atelier da baixa do Porto que designers - Albino Tavares, Duarte Amorim e Sérgio Couto, conhecidos como Bolos Quentes - e clientes - membros da Lovers & Lollypops, em particular Jorge Naper, director de comunicação do MdF - discutem as aplicações da identidade do festival, tomam decisões sobre estratégias e tácticas de comunicação, projectam e corrigem materiais gráficos. Entre amigos, no processo criativo partilha-se risco e confiança - duas coisas sem as quais qualquer projecto de design sofre, se não mesmo falha.

A começar pelo sofisticado avacalho tipográfico dos cartazes de rua, os Bolos Quentes fizeram ainda "website, desdobrável, t-shirts, anúncios de imprensa, banners, flyers e e-flyers, sinalética, bilhetes, pulseiras...", mas também imagens, como os anúncios de venda de bilhetes, que só existem no ecrã. É, aliás, virtual a mais expressiva presença desta identidade: desde a página de Facebook (onde o Mdf tem mais de 12 mil fãs, o triplo da capacidade do recinto em que decorre) ao Twitter, em que a fotografia do utilizador é o logotipo verde sobre nuvem rosa e fundo em espinha nas duas cores, ou ao YouTube, onde muda freneticamente de cor em vídeos como o sorteio "das caras", um de muitos que promovem nas redes sociais.

Está tudo no triângulo. Inicialmente pensado como uma evocação de fitas das festas populares, o logotipo do MdF teria de ser, para os Bolos Quentes, uma forma que "não adquirisse contornos demasiado "popularuchos" para não afastar o público alvo do festival" mas que, associada "às mais diversas cores, fosse bem recebida em círculos onde o preto é a cor dominante." Daí a escolha da letra gótica, preferida dos círculos heavy metal "que não fica intimidada dentro de um triângulo mesmo que este seja cor de rosa".

Fácil de reconhecer e associar, o logotipo é ainda simples o suficiente para ser riscado no braço de alguém, colado no Photoshop a uma fatia de pizza, encontrado numa casa de banho portátil ou replicado num status do Facebook como "Obrigado pelo ? e pelo w, o galo tem corações por algum motivo." O MdF não é só um festival, é também uma avalanche viral, e social, de triângulos. Nenhuma futura história do design português ficará completa sem eles.

frederico@05031979.net

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