Jim Carrey e um bando de pinguins: a coisa, baseada num livro infantil dos anos 30, prometia. Mas não cumpre. Carrey está igual a si próprio, tenso, neurótico, violento, acorrentado, rejeitado, com enormes dificuldades no plano da socialização, seja com os vizinhos, com os patrões e colegas, ou com a mulher e os filhos, de quem, como de costume, está separado (não esquecer que quando se fala de Jim Carrey se fala de um verdadeiro actor/autor, dos poucos que actualmente vale a pena seguir mesmo através dos filmes maus). Os pinguins que lhe entram pela casa adentro, pouco importa explicar por que razão, também não vão mal, sobretudo nas cenas (há algumas) em que não são pinguins digitais mas pinguins de carne e osso - e todos juntos, Carrey (ou seja, o sr. Popper) e os pinguins, dão duas ou três cenas de bailado que não são de deitar fora. Mas é pouco, devia haver vinte ou trinta. Sonhamos com o dia em que Carrey se associe a Jerry Lewis (enquanto ele é vivo) ou se ponha a dirigir os seus próprios filmes (piores do que os filmes de Tom Shadyac ou deste Mark Waters não podiam ser). A única coisa interessante destes "Pinguins do Senhor Popper" é que, mais uma vez, há um momento em que o filme reflecte a angústia do cómico fora de série que é incapaz de encontrar cinema à sua altura: o Sr Popper entretém os pinguins com velhos filmes de Chaplin passados no plasma da sua casa (não é mau como ideia: reencontrar nos pinguins o "espectador-virgem" que há muito deixou de existir); em certa cena, o Sr Popper deixa os pinguins em frente do ecran e sai para a rua, mas a música do filme de Chaplin acompanha-o. E então vemos, durante breves momentos, Jim Carrey caminhando macambúzio pelas ruas de Nova Iorque assombrado pela música de Chaplin. É bonito, é triste, e é, digamos, uma espécie de "statement".
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