Passos admite "desvio" de dois mil milhões
Numa festa do partido em Vila Real, o líder do PSD e primeiro-ministro admitiu um "desvio" nas contas públicas "um pouco superior a cerca de dois mil milhões de euros" e que agora é preciso resolver. Parte da solução será a sobretaxa extraordinária sobre o IRS, que o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, anunciou na quinta-feira, mas o resto terá de ser "corrigido do lado da despesa".
"Há muito próximo de dois mil milhões de euros que precisam de ser absorvidos do lado da receita e do lado da despesa para que, até ao final do ano, o objectivo que ficou fixado para o défice seja cumprido e será cumprido", afirmou Passos Coelho.
Ora, as medidas de contenção serão anunciadas "nos próximos 30 dias", até ao final de Agosto. E resultarão quer "dos trabalhos de preparatórios do novo Orçamento para 2012", quer das medidas para "reestruturar o sector público para poder fazer poupanças adicionais". Até ao mês de Agosto, prometeu, o Governo tem a "grande ambição" de mostrar aos portugueses como é que o "Estado vai poupar sem pôr em causa a sua função social".
Já antes, no seu discurso a militantes e simpatizantes do PSD do distrito onde viveu a juventude, Pedro Passos Coelho voltou a dizer que não estará sempre a falar da herança dos governos de José Sócrates, embora tenha introduzido um "mas".
"Mas quando chegamos ao Governo não pudemos deixar de olhar para a situação que encontramos. Não é para responsabilizar ninguém para trás, isso foi feito nas eleições. É para saber a medida de ajustamento das políticas que precisávamos de concretizar."
Ontem, o primeiro-ministro já não usou a palavra polémica, "colossal". Nem para definir o "desvio" (que terá utilizado no Conselho Nacional de terça-feira) nem para o "trabalho" que o Executivo terá de fazer para ultrapassar o problema (na versão corrigida avançada pelo seu gabinete no dia seguinte).
Passos Coelho falou ainda na cimeira europeia de quinta-feira, em Bruxelas, e avançou as suas expectativas. "Queremos participar num projeto europeu ambicioso e queremos dar o nosso contributo para que a Europa saiba encontrar respostas mais ambiciosas para os problemas, mas como primeiro-ministro nunca ficarei à espera do que a Europa tenha que fazer para governar Portugal", adiantou.