Uma Bizarra Salada no São Luiz
A Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) sobe hoje, às 21h00, ao palco do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, mas o que se irá ouvir e ver será tudo menos um concerto convencional. "Não é um concerto, mas também não é teatro, é um espectáculo inclassificável que mostra o outro lado da orquestra", explica Beatriz Batarda, responsável pela direcção cénica e uma das protagonistas de Uma Bizarra Salada, uma criação integrada no Festival de Teatro de Almada, que parte de uma selecção de textos de Karl Valentin (1882-1948), e reúne a OML e os actores Bruno Nogueira e Luísa Cruz.
Por ocasião da apresentação da última temporada da Metropolitana, o maestro e director artístico Cesário Costa tinha anunciado uma colaboração com o humorista Bruno Nogueira, mas a ideia de abordar o universo de Karl Valentin surgiu só com esta equipa. "Os músicos têm de contracenar com três actores e há também um desafio aos actores para serem músicos", explica Beatriz Batarda antes do ensaio de um dos seis sketches, no qual se mostra uma orquestra em convulsão, um maestro irritável e um músico insólito que passa de violinista a trombonista e acaba como percussionista, à medida que vai boicotando qualquer tentativa de fazer música...
Jogos de palavras
Comediante, clown, autor e produtor de filmes, Karl Valentin tinha uma ligação forte com a música, tendo chegado mesmo a inventar uma imponente máquina musical (o "orquestrião"), composta por vinte instrumentos, que apresentava nas suas digressões. Os seus texto revelam o gosto pelos jogos de palavras e influências do dadaísmo e do surrealismo. "É um autor muito divertido e muito inteligente, mas nem sempre o fazemos, pois às vezes é difícil ter um grupo de músicos à disposição", justifica Beatriz Batarda. O espectáculo, que é repetido no sabádo (às 21h00) e no domingo (às 18h30), "aproveita a metáfora da orquestra como um corpo social complexo para questionar o mundo e as suas perplexidades."Ao primeiro sketch (Fanfarra) interpretado por Luísa Cruz (maestro), Bruno Nogueira (Karl Valentin) e pela OML, seguem-se mais cinco a solo: Uma Bizarra Salada (por Bruno Nogueira) com acompanhamento improvisado da orquestra; Carta de Amor, acompanhada pela abertura da peça Poetas e Aldeões, de Franz von Suppé; Coplas Chinas, em versão cantada sob uma adaptação de um tema de Kurt Weill; Aquário e, finalmente, Karl Canta e Ri-se, uma peça musical composta por Paulo Brandão para o espectáculo E Não se Pode Exterminá-lo?, apresentado em 1979 pelo Teatro da Cornucópia, em Lisboa, com encenação de Jorge Silva Melo.