Físico Nuno Peres é Prémio Gulbenkian Ciência 2011
O laureado deste ano é especialista do grafeno, nova forma do carbono que promete revolucionar a microelectrónica e outras áreas da tecnologia
Tem 44 anos, é físico da Universidade do Minho e, segundo o comunicado ontem emitido pela Fundação Gulbenkian a anunciar que tinha vencido o Prémio Ciência deste ano, Nuno Peres "é um dos mais reputados físicos teóricos mundiais a trabalharem sobre o grafeno". Há anos que colabora com os descobridores desta nova forma (bidimensional) do carbono - Andre Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester (Reino Unido), a dupla que, no ano passado, recebeu por essa descoberta o Prémio Nobel da Física.
O grafeno é um material com a espessura de um só átomo. Na sua superfície bidimensional, os átomos de carbono formam um padrão idêntico ao do favo de mel, ocupando os vértices de uma rede de malhas hexagonais. O grafeno é quase transparente, denso, resistente, elástico e condutor da electricidade e do calor - e promete um sem-fim de aplicações futuras, nomeadamente na área da electrónica.
Foi em 2005 que, juntamente com o seu colega da Universidade do Porto João Lopes dos Santos, Nuno Peres começou a colaborar com Geim e Novoselov. Daí resultou, em 2007, um artigo na revista Physical Review Letters. A seguir, Nuno Peres publicaria mais quatro artigos com a dupla premiada. Um deles, de 2009, na Reviews of Modern Physics, já foi citado perto de 1700 vezes por outros cientistas - uma clara prova da sua relevância.
Entretanto, em 2006, num artigo publicado na revista Physical Review B com outros dois investigadores (da Universidade de Boston e do Instituto de Ciência dos Materiais de Madrid), Nuno Peres previu a existência no grafeno de uma nova forma de uma propriedade física chamada "efeito Hall quantificado". "No grafeno", explicou-nos ontem pelo telefone, "os electrões comportam-se como se tivessem perdido a sua massa. Isso tem por consequência a existência de um novo efeito Hall quantificado [dito] semi-inteiro, que poderá ser explorado como padrão de medida de resistência eléctrica". Ainda segundo o comunicado acima referido, esse artigo de 2006 tornou-se "o artigo teórico mais citado do mundo neste novo domínio da física do estado sólido". Nuno Peres descreveu ainda a opacidade do grafeno do ponto de vista teórico e, em 2008, foi co-autor de um artigo na revista Science, com a equipa dos cientistas de Manchester, sobre essa "transparência visual" do novo material. O júri do Prémio Gulbenkian Ciência (de 50 mil euros) era composto por Fernando Lopes da Silva, Alexandre Quintanilha, Augusto Barroso, Luís Magalhães e Manuel Nunes da Ponte.