Recém-licenciados podem ser mentores de jovens em risco

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Pedro Ramos e Pedro Fiel Foto: Pedro Cunha

Esta é mais uma das ideias candidatas ao prémio das fundações Gulbenkian e Talento para o concurso Faz - Ideias de Origem Portuguesa, que pretende premiar uma ideia que tenha sido concebida por portugueses na diáspora e residentes.

Os jovens que integrarem o projecto Ensinar Primeiro não serão futuros professores ou educadores, nem pretendem seguir o ensino como escolha profissional, revela Pedro Ramos, que acabou recentemente a licenciatura em Bioquímica na Universidade de Glasgow, Escócia, e avança: "A nossa intenção é dar oportunidade a futuros economistas, engenheiros ou cientistas de se envolverem na resolução de um problema social", o insucesso escolar.

Este projecto é uma variante da versão inglesa do Teach First, reconhece, mas com algumas diferenças, salvaguarda: "No Reino Unido, esta iniciativa põe jovens graduados a dar aulas como se fossem professores", o que seria impossível em Portugal devido à número de desempregados nesta área. Por isso, "o objectivo não é substituir os professores", assegura o jovem, é antes "agir junto do aluno" e "formar um elo de ligação" entre o estudante e a escola.

Pedro Ramos e Pedro Fiel, originários do Porto, querem aproveitar o factor de proximidade geracional entre os mentores e os alunos. "Já existem psicólogos, assim como vários programas sociais", mas as pessoas que os protagonizam são "da geração dos nossos pais", com quem os alunos "em risco" não se identificam. Com jovens de "vinte e poucos anos", é mais fácil criarem uma relação de amizade, de cumplicidade, de forma a que o aluno "se consiga abrir junto do mentor" sobre problemas "pessoais, emocionais e escolares".

O objectivo é agir na raiz do problema, antes do insucesso e do abandono escolar. É preciso agir e inovar onde os programas que já existem falham. O mentor tem de criar uma primeira ligação com o aluno; de seguida, ligá-lo à escola, à família e a todos os agentes envolvidos e, assim, tornarem-se "líderes inspiradores para estes alunos".

A curto prazo, o sucesso escolar dos alunos tem um importante impacto na resolução de "problemas educacionais do país", defende Pedro Ramos.

Passando da teoria à prática, Pedro Fiel, estudante de Astronomia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explica ao P2 como é que o Ensinar Primeiro quer implementar o seu projecto. Apesar de o aluno "de risco" ser o alvo da ideia, o projecto centra-se no recém-licenciado. "Queremos atrair estes jovens e dar-lhes a formação necessária em práticas de inserção social para que saiam com a marca de embaixadores do nosso projecto: passa a ser um jovem socialmente responsável e com grande capacidade de resolução de problemas educacionais".

Depois, são colocados nas escolas. Os dois jovens esperam que esta formação se torne numa mais-valia e que as empresas dêem valor ao Ensinar Primeiro, ao ponto de financiar a continuidade do projecto. "É a nossa grande esperança", até porque a questão do financiamento é uma das principais dificuldades apontadas: são precisos formadores e locais de formação, embora, numa fase mais avançada, os próprios mentores possam dar esta formação. É preciso remunerar estes recém-licenciados", diz Fiel.

Outro entrave ao Ensinar Primeiro prende-se com a possível "não-cooperação" dos alunos, mas a dupla garante que esta vai ser "bastante reduzida" devido à "proximidade geracional".

Para avançar com o projecto, a equipa espera contar com o prémio de 50 mil euros do concurso. No caso de não conseguirem convencer o júri do concurso que aquele é o melhor dos dez projectos finalistas, "o financiamento tornar-se-á ainda mais complicado", admitem Pedro Ramos e Pedro Fiel, mas não está nos planos da dupla abandonar o Ensinar Primeiro. "Há que arregaçar as mangas e começar a procurar apoios!"

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