Meio milhão de sírios pede o fim do regime de AssadMassacre de Hama

Terá sido, até agora, o maior protesto contra o Presidente. Pelo menos 500 mil pessoas nas ruas de Hama, após visitas dos embaixadores dos EUA e da França

20 mil

Em 1992, com o mundo concentrado na invasão israelita de Beirute, o ex-Presidente Hafez al-Assad mandou destruir Hama. Foram mortas quase 20 mil pessoas.Mais de "meio milhão" de pessoas manifestaram-se ontem em Hama, segundo estimativas da Al-Jazira, cujos repórteres descreveram o que viram como "o maior protesto" contra o regime de Bashar al-Assad. A cidade carrega o simbolismo de ter sido literalmente arrasada por tanques enviados pelo pai do actual Presidente, em 1982, depois de várias tentativas para o assassinar. Na operação para liquidar o seu principal inimigo, Hafez al-Assad terá mandado matar umas 20 mil pessoas, estimam organizações internacionais de direitos humanos.

Pelo menos oito pessoas terão sido mortas nestas manifestações, que não se limitaram a Hama mas se expandiram a outras localidades, incluindo Damasco, a capital, informaram activistas da oposição citados pela estação pan-árabe com sede no Qatar. A televisão estatal síria, por seu turno, atribuiu a responsabilidade pela violência a "snipers de gangues armados".

Na sexta-feira passada, já tinha havido uma grande mobilização contra o clã alauita (uma minoria e subseita do xiismo) que há mais de três décadas governa o país de maioria sunita (a ortodoxia do islão). Registaram-se prisões em massa e "inúmeras mortes", apesar do carácter pacífico das marchas em que os cidadãos erguem ramos de oliveira e gritam slogans como "Só nos ajoelhamos perante Deus".

O protesto de ontem assumiu um peso político significativo porque ocorreu horas depois de o embaixador norte-americano em Damasco, Robert Ford, ter visitado Hama, "em solidariedade com os seus residentes", como informou o Departamento de Estado em Washington. Também o embaixador francês Eric Chevallier, fez questão de se deslocar à cidade, com o mesmo propósito.

"A presença do embaixador dos EUA em Hama sem autorização prévia é uma prova óbvia do envolvimento da América nos actuais acontecimentos na Síria e das suas tentativas de incitar a uma escalada na situação", lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros divulgado em Damasco.

O Departamento de Estado norte-americano reagiu assim: "A intenção principal [da visita de Ford] foi deixar absolutamente claro, com a sua presença física, de que estamos ao lado dos sírios que exprimem o seu direito à mudança."

A organização Syrian Observatory for Human Rights, que opera a partir de Londres, precisou que cerca de mil habitantes já abandonaram Hama, com receio de uma nova ofensiva militar. O jornal oficial Al-Watan, insiste, todavia, que a situação "está calma" e que já foram levantadas as barricadas erguidas nas ruas pelos manifestantes para travar o avanço das forças de segurança.

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