O mundo está em crise, a economia está a dar cabo da classe média, o desemprego espreita... mas desde que haja boa vontade e bons amigos e não se quiser baixar os braços, não há-de ser nada. Como mensagem para os dias que correm não está mal não senhor, e é essa esperança bem-disposta e optimista, saidinha de uma outra era do cinema americano, que empresta a "Larry Crowne", segunda realização do actor Tom Hanks, a sua "patine" de filme fora de tempo.
Fora de tempo, aqui, deve ser entendido como "fora do seu tempo" - primeiro, porque retoma todas as convenções de um cinema americano "adulto" que a fuçanguice da semanada adolescente escorraçou; segundo, porque mesmo no tempo em que os estúdios faziam destas coisas (isto é, os anos 1970), tudo era um bocadinho menos "convencional" e mais misantropo do que esta história de um cinquentão que se vê despedido por só ter feito o liceu e decide recomeçar a sua vida inscrevendo-se na universidade. Se como actor sabemos da atracção de Hanks por homens normais confrontando situações extraordinárias, a sua generosidade como realizador leva-o a "apagar-se" pelo meio de um elenco secundário de luxo (Hanks apenas aceitou interpretar o papel principal para conseguir que o filme se fizesse).
E a sua sinceridade no modo como fala de um espírito de comunidade que ajudou a fazer da América o país que é e que muitos acham estar "adormecido" hoje em dia é inegável. Mas nem uma coisa nem outra invalidam que, pelo meio da sua mensagem de auto-determinação e capacidade de dar a volta por cima e da sua bonomia optimista, se reconheçam em "Larry Crowne" uma série de lugares-comuns mais que gastos da comédia romântica de meia-idade. E nem a entrega do elenco consegue compensar a sensação de que ninguém tem personagens a defender, antes arquétipos a que o próprio guião não dá tempo para tornar em gente. Enquanto comédia levezinha para o Verão, "Larry Crowne" cumpre na perfeição; mas confessamos que esperávamos mais do que "apenas" isso.