Tribunal da ONU acusa militantes doHezbollah pelo atentado que matou Hariri

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O atentado contra Rafiq Hariri transformou politicamente o Libano DAMIR SAGOLJ/REUTERS

Novo Governo, dominado pelo movimento xiita, promete agir de forma "responsável e realista", mas a entrega dos quatro suspeitos à instância da ONU é pouco provável

O Governo libanês, dominado pelo Hezbollah, comprometeu-se ontem a agir de forma "responsável e realista" depois de o tribunal das Nações Unidas ter enviado a Beirute a acusação contra quatro suspeitos de envolvimento no atentado que em Fevereiro de 2005 matou o ex-primeiro-ministro Rafiq Hariri - acção que desencadearia a maior transformação política da história recente do país e que continua a dividir os libaneses.

O documento está selado, mas sabe-se que pelo menos dois acusados são do movimento xiita, o que torna pouco provável a sua detenção.

"É um momento histórico" que chega "após muitos anos de paciência e de luta", disse Saad Hariri, filho e sucessor de Rafiq, agora líder da oposição, depois de o tribunal ter entregado a acusação e quatro mandados de captura ao procurador-geral libanês.

Do outro lado da barricada, o Partido de Deus declarou que a acusação apenas prova que o Tribunal Especial para o Líbano é "politizado".

A instância - criada pela ONU em 2007 a pedido de Beirute - limitou-se a confirmar o envio da acusação, que continua selada "para ajudar as autoridades libanesas a cumprir a sua obrigação de deter os acusados".

Mas o jornal Daily Star revelou de imediato os nomes dos suspeitos, entre os quais está Mustafa Badreddine, membro do Hezbollah desde a fundação e actual chefe de operações da milícia xiita. Segundo o diário, terá sido ele o organizador do atentado, que matou Hariri e 21 outras pessoas. A operação terá sido executada por uma célula sob comando de Salim Ayyash, que tem passaporte dos EUA.

Instabilidade de regresso

A confirmação de que as investigações apontam para o envolvimento do Hezbollah no ataque arrisca reavivar a instabilidade no país, seis meses depois de o movimento ter forçado a queda do governo de unidade nacional liderado por Saad Hariri, exactamente porque este se recusou a retirar o apoio ao tribunal da ONU.

O Hezbollah nega qualquer envolvimento no ataque e acusa o tribunal de ser uma ferramenta "ao serviço de Israel e dos EUA". Forjando uma nova maioria, o Partido de Deus impôs a nomeação de Najib Mikati, um milionário sunita dissidente do partido de Hariri, que tem uma posição mais dúbia sobre a colaboração com o tribunal. "Enfrentamos uma nova realidade e não podemos esquecer que estamos perante acusações e não veredictos", disse o primeiro-ministro.

A declaração reafirma a política oficial do novo executivo, negociada nas últimas semanas entre Mikati e o Hezbollah: Beirute não cortará relações com o tribunal, mas não fará nada que ponha em causa "os acordos internos, a paz e a estabilidade" do país. Uma fórmula que exclui, na prática, acooperação. "Os acusados são membros ou próximos do Hezbollah. As autoridades não têm poder para os deter se estiverem no Líbano", disse à Al-Jazira o general libanês Hisham Jaber.

No entanto, um boicote ao tribunal coloca Mikati numa situação delicada. Por um lado, arrisca-se a alienar a comunidade sunita, apoiante do tribunal. Por outro, pode alienar a Arábia Saudita e os aliados ocidentais, desconfiados já de um Governo dominado pelo Hezbollah.

Se os mandados emitidos não forem cumpridos em 30 dias, o tribunal deverá divulgar a acusação e intimar publicamente os suspeitos a responder, podendo julgá-los na sua ausência.

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