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Formação desencoraja candidatos à adopção

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Estas sessões foram frequentadas por 1629 pessoas em 2010 - menos de mil continuaram pedro cunha

Primeiro balanço do Instituto de Segurança Social mostra que, num universo de 1629 pessoas, apenas 955 ultrapassaram a primeira "aula"

Duas em cada cinco pessoas que no ano passado assistiram à primeira "aula" do Plano de Formação para a Adopção desistiram de adoptar. Há coisas que nunca lhes tinham passado pela cabeça. Confessa uma candidata: "Quando me disseram que adoptamos também a família biológica da criança, pensei: "Eh, pá!"" Frequentaram estas sessões 1629 pessoas. Menos de mil avançaram.

O relatório que faz um balanço da primeira fase do Plano de Formação para a Adopção revela o diferencial: em 2010, registaram-se 428 candidaturas de casais e 99 singulares - 955 pessoas. Avaliação do Instituto de Segurança Social (ISS): objectivos "plenamente alcançados". Que quer isto dizer? "A sessão A faz uma primeira triagem, reforçando a informação, sensibilização e responsabilidade de quem pretende candidatar-se à adopção."

A candidata do início deste texto levou "tempo a digerir" a ideia de "adoptar também a família biológica do filho", mas acabou por aceitar ser provável a criança que vier a adoptar querer conhecer os pais ou os irmãos biológicos. E compreendeu que deve estar preparada. Nem sempre, porém, as informações prestadas pelos técnicos nesta primeira aula serão tão bem "digeridas".

O plano - parceria do ISS e da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto - arrancou em Dezembro de 2009. Com uma intenção: diminuir o número de crianças devolvidas pelas famílias adoptantes, causa de trauma para uns e para outros. Os dados do ISS, que excluem Madeira, Açores e Lisboa, já mostram um recuo: 12 crianças devolvidas em 2010, 26 em 2009. Mas Isabel Pastor, responsável pelo Serviço de Adopção, acha que isso "não tem ainda a ver com o plano de formação". Relaciona-o com "uma maior qualificação dos próprios serviços".

Menos candidatos

O número de crianças integradas em famílias estava a subir desde 2006. Em 2008, Edmundo Martinho, presidente do ISS, apontava a alteração legislativa introduzida em 2003, a entrada em funcionamento das listas nacionais de adopção, o incorporar de práticas de agilização de processos. No terreno estava já o Projecto Dom, a reforçar e a qualificar as equipas das instituições que acolhem crianças e jovens em risco, o que também fizera aumentar o número de crianças disponíveis, logo, o número de crianças integradas em famílias.

A nova lei veio obrigar a desenhar um projecto de vida para cada criança. E isso "desencalhou" crianças retiradas a famílias biológicas e postas em instituições. Em Dezembro de 2007, 773 estavam integradas em famílias adoptivas. "Há uma tendência para as coisas normalizarem", explica Isabel Pastor, citando outros números que sustentam tal percepção. Em Dezembro de 2008, estavam 651; em 2009, 568; em 2010, 538.

Ao mesmo tempo, cada vez menos pessoas formalizam candidatura à adopção. Em 2008, houve uma média de 73 por mês; em 2009, 65; no ano passado, 44. E a formação pode estar a contribuir para isto.

Em Dezembro, o número de candidatos (2476) inseridos na base de dados nacional era mais de quatro vezes superior ao de crianças à espera de família (538). "Não se fabricam crianças para adopção", enfatiza. Impõe-se chamar a atenção para esta disparidade, adequar os desejos à realidade.

Os portugueses continuam a preferir crianças até três anos, caucasianas, saudáveis. Só que o número de crianças pequenas é muito baixo. No final do ano passado, na base de dados nacional, havia apenas 84 miúdos até três anos. Ora, 2302 candidatos sonhavam com um filho dessa faixa etária. Só 280 admitiam a possibilidade de adoptar crianças com sete anos ou mais.

"É na sequência de uma infertilidade diagnosticada que muitas pessoas pensam na adopção e pensam de imediato num substituto para o bebé que não tiveram", diz Isabel Pastor. "Na formação as pessoas podem perceber, por exemplo, que também haverá vantagens em adoptar uma criança mais crescida, que já não precisa de fraldas, por exemplo, que, se calhar, não implica tantas surpresas - muitas vezes, num bebé há doenças que não são identificadas, enquanto uma criança com cinco ou sete anos, se é saudável, certamente vai continuar a ser..."

Não é só a idade a promover um desencontro entre aspirantes a pais e crianças desejosas de pais. Naquele mesmo mês, havia 2293 candidaturas a um filho sem problemas de saúde. Só 351 correspondiam a esse ideal. Apenas sete candidatos admitiam acolher uma criança com deficiência (havia 76) e três com problemas de saúde graves (havia 81). Outro factor que anda a reter crianças em instituições: estar com irmãos. Havendo uma ligação muito forte, não se separam. "E quem pode levar três crianças de uma vez?", pergunta Isabel Pastor.

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