No Arraial Pride também houve canções infantis
Havia uma tenda do clube Boys Just Wanna Have Fun, que tem uma equipa de râguebi composta maioritariamente por homossexuais; outra onde uma agência de viagens promovia "férias pride" ao "melhor preço garantido". E outra a que chamaram "arraialito" - um espaço com carpete cor-de-relva e pufes coloridos. Era nesta última que um grupo de crianças ouvia histórias infantis lidas em voz alta. Como esta que acaba com uma canção: "Por quem me apaixonarei? Não sei, não sei. Pela Marta ou pelo André? Não sei, não sei." E todos, meninos e meninas, cantaram. Foi também assim o Arraial Pride, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Há 15 anos que esta festa faz parte do programa oficial das Festas de Lisboa. E, ontem, o presidente da câmara municipal, António Costa, foi marcar presença. Disse que o arraial organizado com a Ilga - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT) é "um marco importante", porque "a diversidade enriquece uma cidade". E, enquanto dizia isto, atrás de si, um grupo mais acalorado, com uma bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBT, atirava-se ao rio Tejo. E nadava.
Mas, à tarde, o arraial, ainda que pouco concorrido, teve mais: dezenas de barraquinhas com bebidas, algumas das quais de bares emblemáticos da noite de Lisboa; música e DJ; casais de homens musculados vestidos com equipamento desportivo e outros de folhos ou brilhantes; avós com os netos pela mão. Os miúdos que ouviam as histórias infantis gay-friendly e que pintavam desenhos de famílias onde há dois pais ou duas mães confessaram, a certa altura, que não tinham percebido bem a história da "química do amor" de que falava um dos contos. Mas, para Paulo Côrte-Real, a tenda do "arraialito" tinha um significado especial: dirigia-se às crianças, e são elas que estão no centro de algumas das reivindicações actuais da Ilga. Um ano depois da aprovação do casamento gay - e com uma média de mais de um casamento por dia a celebrar-se no país -, "a parentalidade, da perfilhação à adopção, e a procriação medicamente assistida são uma prioridade".
Sem grande expectativa de que o Governo venha a incluir no seu programa a possibilidade de os casais de pessoas do mesmo sexo poderem adoptar, Côrte-Real diz que "não é possível ignorar as famílias que já existem", como as que ontem visitavam o "arraialito". E deu um exemplo: imagine-se um casal de duas mulheres; a mãe biológica morre, o papel da que sobrevive, na vida da criança, não é de todo reconhecido. "São os direitos das crianças que estão em causa", diz Côrte-Real.