De sex symbol hetero a homossexual assumido, Ricky Martin venceu o medo

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Ricky Martin
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Foi a bomba latina da pop, um sex symbol hetero. Mas, no ano passado, Ricky Martin, que actua hoje em Portugal, assumiu por fim ser gay. Por que não o fez antes? Medo. E ambição.

Ricky Martin: não há quem não o conheça - seja pela música, as namoradas, os rumores, os filhos ou a homossexualidade. De cantor porto-riquenho desconhecido a um dos maiores ídolos da música pop de finais dos anos 1990, foi um pequeno passo. Ou melhor, uma música.

Tudo começou com Maria, em 1996. A comunidade latina rendeu-se à sua voz. Foi tema de uma novela da Globo, Salsa e Merengue, e vendeu milhões de cópias nos países latinos, que lhe valeu um convite da Disney para compor um tema para o filme que sairia em 1997, Hércules. E, um ano depois, tudo aconteceu quando se tornou na cara e voz do Campeonato Mundial de Futebol, em França, com La Copa de la Vida. A música passou em todas as rádios, não havia ninguém que não cantasse um Allez, allez, allez. Foi número um em mais de 15 países e vendeu mais de 22 milhões de cópias. Ricky Martin tinha acabado de conquistar o mundo.

Durante anos, foi o centro das atenções de Hollywood, o menino bonito da música, objecto de desejo de muitas mulheres, com quem fez questão de andar sempre rodeado; vendeu milhões de discos, venceu vários prémios e depois desapareceu dos palcos, como se as luzes da ribalta se tivessem apagado. Hoje está de volta a Lisboa. Apresenta o seu mais recente trabalho Música+Alma+Sexo no Pavilhão Atlântico (às 20h30). Hoje já não se apresenta como um sex symbol ou um homem com sede de mulheres, mas sim como um símbolo gay, como alguém que começou a colar a sua imagem aos movimentos de reivindicação pelos direitos LGBT e se quer agora afirmar como exemplo para os mais jovens, sobretudo aqueles que ainda não tiveram coragem de assumir sua sexualidade. Mas será que ainda vai a tempo?

"Nunca é tarde. Infelizmente, na música, assim como no desporto e nas artes, ainda existem muito poucas ou quase nenhumas referências homossexuais e, por isso, o medo de perder fãs e prestígio é maior do que qualquer [outra] coisa. Mas a verdade é que existem homossexuais em todas as áreas. Só é preciso que comecem a aparecer mais exemplos positivos e casos de sucesso para se quebrar este tabu", diz ao P2 Miguel Pinto, da direcção da Ilga Portugal (Instituição de Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero).

A verdade é que, nos últimos anos, a vida de Ricky Martin deu uma reviravolta do tamanho da sua passagem de bomba latina a homossexual e pai de família. Primeiro vieram os filhos, em 2008, e depois, em 2010, o cantor assumiu em comunicado: "Tenho orgulho em dizer que sou homossexual e afortunado. Sinto-me abençoado por ser quem sou. Estes anos em silêncio e reflexão fizeram-me mais forte e recordaram-me que a aceitação tem de vir de dentro."

A revelação, apesar de não ser propriamente novidade, mas antes a confirmação dos rumores que existiam há anos, caiu como uma bomba. As mensagens de apoio e felicitação multiplicaram-se, mas muitas questões ficaram sem resposta. Ricky Martin mentiu aos fãs durante anos, alimentou a atracção e o sonho das mulheres e fingiu relações heterossexuais para enganar a imprensa. Para quê tanta encenação? "Eu não estava preparado. Tinha medo. Como cresci numa sociedade muito conservadora, sempre achei que a minha atracção por homens era uma coisa do diabo e quanto mais falavam no assunto mais eu procurava afastar-me dessa imagem", contou Ricky Martin a Oprah, confessando que desde pequeno se sentiu atraído por homens e cedo teve as suas primeiras relações gay. Falou mais alto a ambição de uma carreira na música, mas o cantor garante "que, se soubesse que se sentiria tão bem e que correria tudo tão bem", tinha assumido mais cedo.

"É verdade que existe muito preconceito, ainda há muita coisa a fazer neste campo", conta Miguel Pinto. Ideia de que o porto-riquenho fez questão de falar na sua entrevista exclusiva à apresentadora norte-americana. "Quando falavam da minha sexualidade, as pessoas faziam-no em tom de gozo, como se fosse um escândalo. Era assustador."

Para Cátia Esteves, presidente do clube de fãs oficial do músico em Portugal, Ricky Martin assumiu quando se sentiu preparado, "e isso é de louvar". "Como fã, aceitei o seu comunicado com muito respeito", não se revelando desiludida ou triste com a notícia. "Respeito-o como o grande artista que ele é. Em nada mudou a sua música ou as suas actuações", afirma.

"Este é o caminho normal das coisas. Apesar de ser um tema controverso, acho que é importante saber se alguém é ou não homossexual, principalmente quando falamos de celebridades, e não é saber no sentido de curiosidade mas sim de normalidade. Precisamos de modelos que banalizem o tema", diz o responsável da Ilga, lembrando que Ricky Martin pode não se tornar num símbolo da comunidade gay mas "tem de certeza influência sobre os jovens que gostam dele como artista".

Consciente deste poder, desde que se assumiu, Ricky Martin tem dado a cara pela comunidade gay latina, voltou aos discos, que não gravava desde 2005, e constituiu família ao lado de um homem.

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