Especialista desvaloriza risco de malária ou dengue em Portugal devido ao aquecimento do clima

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Nunca foram detectados mosquitos com vírus de malária ou dengue desenvolvidos em Portugal

“Existem muitas variáveis” que podem desenvolver os vectores da malária e do dengue, afirmou à Lusa o responsável do sector de patologia e clínica de doenças tropicais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, lembrando que “não é só o calor que é importante, a humidade é crítica”.

Por outro lado, sublinhou, “a vigilância epidemiológica é feita pela Direcção Geral de Saúde em colaboração com a Organização Mundial de Saúde de forma regular e o sistema funciona, como ficou provado com a nova variante de gripe”.

Para Jorge Seixas, as declarações do presidente do Instituto Português do Sangue no domingo – ao afirmar que doenças como a malária ou o dengue podem chegar a Portugal porque o clima é cada vez mais tropical – podem causar alarmismos sem razão.

“Já houve malária autóctone em Portugal até aos anos 60/70. Depois disso, o mosquito perdeu a capacidade de transportar o parasita mais mortífero da malária. A possibilidade de [o mosquito em Portugal] voltar a ter essa capacidade é uma especulação”, explicou o especialista.

No caso do dengue, “o mosquito já existe na Madeira”, sendo que “aí poderia estabelecer-se o ciclo novamente”.

A introdução em Portugal continental “é sempre uma possibilidade”, mas a situação está a ser vigiada, referiu.

Para o responsável do Instituto de Medicina Tropical, é preciso não criar alarmismos, até porque já existem em Portugal doenças transmitidas por mosquitos.

“Não há evidência de transmissão de malária ou dengue em Portugal” ao contrário do que acontece com vírus como a leishmaniose (mais parecida com a malária) ou o west nail (parente do dengue).

"Essa noção de que em Portugal não há problema nenhum com os mosquitos é falsa. O mundo não é um sítio seguro e com a globalização as coisas tornam-se mais complicadas”, referiu Jorge Seixas.

Saúde alerta

Por seu lado, o subdirector geral da Saúde garantiu hje que nunca foram detectados mosquitos com vírus de malária ou dengue desenvolvidos em Portugal mas admitiu que o aquecimento geral do clima levou à criação de uma rede de vigilância permanente.

“Temos alguns casos [de transmissão de malária ou dengue] que são ‘importados’ de doentes que apanharam a doença fora do país, mas dentro do nosso país não temos conhecimento de nenhuma situação que seja exclusivamente nossa”, afirmou à Lusa José Robalo.

José Robalo sublinhou o que existe “uma rede nacional de vigilância de vectores (mosquitos)” que apanha e identifica os mosquitos que andam a circular no país e, até hoje, “não temos nenhuma situação que seja autóctone”.

Segundo o presidente do Instituto Português do Sangue, Álvaro Beleza, “Portugal está a ter um clima cada vez mais tropical e isto é óptimo para os mosquitos. Calor e humidade”.

Alerta com que José Robalo concorda, lembrando que a criação, há três anos, da rede de vigilância nacional em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde, de deveu precisamente ao facto de o clima em Portugal estar a tornar-se mais quente.

“Temos esta rede vectorial exactamente por isso, para ver se existe introdução no país de mosquitos que possam estar infectados e transmitir doenças”, concluiu.