Chefe do Pentágono confirma negociações de paz entre EUA e taliban

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Robert Gates garante que há vontade de negociar Omar Sobhani/Reuters

“Penso que há uma vontade de negociar por parte de um certo número de países, onde se incluem os EUA”, disse Gates à CNN, sublinhando porém que os contactos, neste momento, são ainda “preliminares”. O chefe do pentágono frisou ainda que era crucial determinar “quem representa verdadeiramente os taliban”, antes de se iniciarem discussões com quem pretenda ser o seu chefe, mollah Omar. “Não queremos estar a negociar com alguém que é independente”, afirmou Gates evidenciando que uma das prioridades americanas era garantir que os contactos estavam a ser realizados com membros genuínos e influentes dos taliban.

Gates mostrou-se também seguro de que os taliban não iriam sair vitoriosos do conflito. “Acho que os taliban têm de sentir-se sob pressão militar e começar a acreditar que não podem ganhar antes de estarem dispostos a ter uma conversa séria”, declarou citado pela Reuters.

As declarações do secretário da Defesa norte-americano acontecem um dia depois de o Presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, ter confirmado que responsáveis norte-americanos estavam em negociações de paz com os taliban. As declarações de Karzai constituíram a primeira confirmação oficial de negociações para o fim de uma guerra que se arrasta há quase dez anos. “As negociações de paz com os taliban estão em curso. Militares estrangeiros, especialmente dos EUA estão a participar nestas negociações”, disse Karzai durante um discurso em Cabul.

Para Alain Juppé, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, as declarações de Karzai são uma “não notícia”, já que “há muito tempo que se sabe que há conversações entre os taliban e os americanos”. Na verdade, muitos diplomatas sob cobertura de anonimato, têm vindo a admitir contactos entre EUA e taliban

Ontem, Robert Gates insistiu também na necessidade de manter forças no Afeganistão, assegurando que, embora soubesse que “os americanos estão cansados da guerra”, qualquer que fosse “ a decisão de Obama, um número significativo de soldados permanecerá no Afeganistão”. Também o senador republicano John McCain mostrou não ser favorável a uma retirada imediata das tropas: “abandonar o Afeganistão à mercês dos talibans e de islamistas radicais seria repetir os erros do passado”, disse ontem citado pela AFP.

A NATO definiu 2014 como prazo limite para as suas operações de combate no país e o Presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu que a retirada de tropas teria início em Julho.

Na sexta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu separar a lista de sanções em vigor contra dirigentes taliban e da Al-Qaeda na esperança de estabelecer uma distinção e favorecer a reconciliação no Afeganistão.

“Os EUA estimam que o novo regime de sanções constituirá um instrumento importante para promover a reconciliação isolando os extremistas”, disse a embaixadora americana na ONU, Susan Rice.

Depois de quatro anos e meio como chefe do Pentágono, Gates abandona as suas funções no fim deste mês. Leon Panetta, actual director da CIA, será o seu substituto.

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