Milhares na rua contra a nova Constituição de Marrocos
Em Casablanca, segundo a AFP, dez mil pessoas, na sua maioria jovens, desfilaram no bairro popular Derb Soltan. “Não vamos desistir”, assegurou Ahmed Mediany, membro da secção local do Movimento Islamista Justiça e Bem-Estar.
O movimento de contestação que nasceu das redes sociais e saiu pela primeira vez à rua a 20 de Fevereiro para pedir reformas democráticas é essencialmente constituído por jovens de partidos da esquerda radical e por apoiantes dos grupos islamistas, os dois grandes blocos da oposição ao regime e ao monarca. Há 34 partidos em Marrocos, mas a maioria defende a manutenção do statu quo, com o rei a reunir grande parte dos poderes no país. Os três principais partidos do país já apelaram ao “sim” no referendo marcado para 1 de Julho.
Foi esse estado das coisas que o 20 de Fevereiro viu garantido na reforma constitucional, que prevê um fortalecimento da figura do primeiro-ministro, ao mesmo tempo que torna a justiça mais independente do poder político, mas mantém o rei como máxima autoridade religiosa e militar, continuando ainda a seu cargo a nomeação dos juízes e do chefe do Governo.
A grande manifestação deste domingo foi a de Casablanca, a maior cidade do país, com seis milhões de habitantes, e grande aposta do Movimento. Mas o protesto começou atrasado porque os manifestantes se depararam com centenas de pessoas favoráveis ao rei e ao seu projecto de Constituição, que tentaram impedir a marcha. Para evitar confrontos, os membros do 20 de Fevereiro mudaram de bairro.
Em Tânger, houve centenas a protestar num bairro popular. Em Marraquexe foram centenas a manifestar-se sem distúrbios, enquanto em Rabat dezenas de membros do Movimento tiveram de contornar uma contra-manifestação no bairro de Takadum.
O Movimento 20 de Fevereiro, inspirado nas revoluções tunisina e egípcia, não esperava uma revisão constitucional satisfatória, pelo que a decisão de manter os protestos, que passaram a semanais no fim de Maio, já estava tomada antes do anúncio do rei. Falta agora a este grupo heterogéneo de pessoas pôr-se de acordo sobre a posição a defender para a consulta de dia 1, apelando ao voto no “não” ou ao boicote, opção defendida por muitos membros da esquerda que não acreditam na transparência do voto.