João Brites em revisão total

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Brites teme uma Europa que esmague as diferenças Miguel manso

O percurso de João Brites, fundador do grupo de teatro O Bando, está em revisão na República Checa. É o representante português na 12ª Quadrienal de Praga Espaço e Design da Performance

Foi em 1974. Depois do exílio, em Bruxelas, João Brites, que hoje conhecemos como encenador e mentor do grupo de teatro O Bando, sentiu "necessidade de intervir politicamente como cidadão, como pessoa que ansiava mudar a sociedade e estar mais próximo do público". Foi assim que se foi ligando ao teatro, às intervenções de rua e ao mundo da performance e da instalação. É o seu percurso, agora com mais de 36 anos, que se visita na exposição Do Outro Lado, a inaugurar hoje no Palácio Veletrzní - Galeria Nacional, em Praga, República Checa - até dia 26, Brites e a sua obra como cenógrafo são os representantes portugueses na 12ª Quadrienal de Praga Espaço e Design da Performance, a convite da Direcção-Geral das Artes.

O Bando, de que é hoje impossível dissociá-lo, nasceu em pleno período pós-revolucionário. Na altura, Brites entusiasmava-se com "a necessidade de sociabilizar", intervindo de forma positiva na sociedade, recusando "viver como um eremita". Foi o que o aproximou da cenografia, que lhe permitia aliar as artes plásticas às artes visuais.

Do ponto de vista tradicional "a cenografia eram os telões de fundo com uns painéis laterais que simulavam muitas vezes a perspectiva, era a arte de quase pintar". Hoje, a cenografia é um conceito mais abstracto: "O território que circunscreve a representação." "A cenografia é um elemento visual que ajuda a caracterização de um espectáculo", diz Brites, recordando que os elementos de uma intervenção cenográfica podem ser "a luz, um objecto, apenas um risco no caminho, ou somente actores". O mesmo que dizer que o teatro pode "acontecer em qualquer lugar".

Conhecido pelas suas máquinas de cena, que descreve como "cenários polissémicos, que mudando de posição significam outras coisas", Brites diz inquietar-se com a "falta de conhecimento de que a cenografia é um elemento indispensável ao espectáculo e não uma mera ilustração do que está descrito no texto". Olha a cenografia como forma de "complemento aos sentidos que estão implícitos nas outras valências do espectáculo" e considera que é esta complementaridade que traz maior qualidade.

Nas suas construções cénicas procura que "os elementos do espectáculo possam valer só por si" e sustenta a ideia de que "o texto tem que ser literário, a cenografia tem que ser o objecto escultórico de qualidade visual e que os figurinos possam estar numa exposição", simbiose que permitirá que cada um dos elementos retirados ao contexto possa valer por si.

Influenciado pela etnologia, a antropologia e a tradição popular, sublinha: "A contemporaneidade tem um pezinho na tradição, no nosso passado histórico e na nossa memória colectiva." Nesse sentido, teme "uma Europa completamente globalizadora que acabe por esmagar as diferenças" e mostra urgência na necessidade de "empurrar os poderes políticos para uma estratégia cultural mais sustentada e planeada, não ao longo de quatro anos, mas ao longo de uma geração", com "mais apoios para os que desejam trabalhar nestes sectores".

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