Associação Conquistas da Revolução quer preservar o legado do "companheiro Vasco"
Querem preservar a memória e o legado de Vasco Gonçalves. Para isso vão fundar uma associação. Ontem, homenagearam o antigo primeiro-ministro
"Não tenho dúvidas de que Portugal, no futuro, chegará à conclusão que este homem estava certo." A afirmação refere-se ao antigo primeiro-ministro, Vasco Gonçalves, e foi proferida ontem pelo comandante Manuel Begonha, na homenagem que a Associação Conquistas da Revolução prestou a Vasco Gonçalves, no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, assinalando o sexto aniversário da sua morte.
Mais de uma centena de pessoas compareceram junto à campa de Vasco Gonçalves, simbolicamente coberta com cravos vermelhos e ladeada de rosas da mesma cor, para prestar esta homenagem que foi o primeiro acto público da nova associação, cuja assembleia constituinte se realizará no sábado, dia 18 de Junho, à tarde, na Casa do Alentejo, em Lisboa.
Constituída para lembrar a memória de Vasco Gonçalves e o seu legado político - como foi salientado ontem, prosseguir o seu objectivo de "dar dignidade àqueles que não tinham dignidade" -, a Associação Conquistas da Revolução tem já mais de 300 fundadores, adiantou ao PÚBLICO Beatriz Nunes, uma das fundadoras.
Entre os fundadores da associação, que ontem estiveram no Alto de São João, destaquem-se os militares de Abril Duran Clemente, José Emílio Silva, Baptista Alves, mas também figuras como o antigo dirigente do MDP/CDE, João Silveira Ramos, o dirigente do PCP José Casanova, ou o dirigente da Intervenção Democrática, João Corregedor da Fonseca.
Refira-se que Vasco Gonçalves foi o carismático primeiro-ministro que liderou a revolução após o 25 de Abril, que teve o seu clímax no "Verão Quente", travado pelo 25 de Novembro de 1975. Próximo do PCP e conhecido à época como "o companheiro Vasco", foram os seus governos provisórios, nomeados pelo Presidente da República António de Spínola, e apoiados pelo Conselho da Revolução e pelo Movimento das Forças Armadas, que lançaram medidas como a Reforma Agrária, as nacionalizações, o salário mínimo e o salário máximo e os subsídios de férias e de Natal.
Ontem, coube a Manuel Begonha proferir a intervenção e justificar a criação da associação. Ou seja, a necessidade de combater a tendência actual de "esquecer a memória e esquecer o passado". E referiu a necessidade também de não esquecer "os conceitos de liberdade, os conceitos de igualdade para todos, os conceitos de solidariedade".
Não deixou, porém, de fazer aquilo que ali o levara: homenagear Vasco Gonçalves. Lembrando que ele tinha o "dom pouco vulgar que se designa por carisma", Manuel Begonha questionou: "Em que outra época, em Portugal, se viveu com a poesia na rua?"