"Número dois" de Dilma demite-se depois de suspeitas de enriquecimento ilícito

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Palocci demitiu-se para não fragilizar o Governo de Dilma UESLEI MARCELINO/REUTERS

Passaram menos de três semanas entre o dia em que o Ministério Público de Brasília abriu um inquérito para investigar o alegado enriquecimento ilícito por parte do ministro da Casa Civil do Brasil e o dia em que António Palocci se demitiu.

O "número dois" da Presidente Dilma Rousseff apresentou na terça-feira a sua demissão explicando não querer que a "polémica" gerada à sua volta prejudicasse as atribuições do Governo. E Dilma, no mesmo dia, e num breve comunicado, declarou ter aceitado a demissão do ministro, tendo confessado aos seus assessores, segundo o jornal Folha de São Paulo, também não poder "deixar que uma crise pessoal contaminasse e paralisasse o seu Governo".

As suspeitas em torno de Palocci surgiram depois da Folha ter noticiado que o ministro teria multiplicado em cerca de 20 vezes o seu património num espaço de quatro anos - de 2006 a 2010, quando ocupava o cargo de deputado federal.

O ministro negou ter cometido quaisquer ilegalidades e, na segunda-feira, o procurador-geral da República brasileiro anunciou o arquivamento de todos os pedidos de inquérito contra Palocci, por não existirem "indícios concretos da prática de crime nem justa causa para investigar o caso". Mas a polémica já estava lançada e, durante mais de vinte dias, o Governo "ficou a sangrar com essa crise", analisa a editora de Nacional do jornal Estado de São Paulo, Malu Delgado. Desde que foi feita a denúncia, o Governo começou a "desestabilizar", sublinha a jornalista, que relembra que "toda a coordenação política do Governo estava concentrada na figura do ministro António Palocci".

O cargo de ministro da Casa Civil é de extrema importância, já que funciona como uma espécie de ponte entre todos os ministérios e entre o poder executivo e legislativo. Com este actor político fragilizado, o Governo fica "paralisado", não conseguindo aprovar projectos nem tendo um canal de comunicação com os outros partidos.

Para substituir Palocci, a Presidente Dilma já fez a sua escolha. A jovem senadora Gleisi Hoffmann, do Partido dos Trabalhadores - chamada pela oposição "pitbull do Senado" ou "dama de ferro" - é a eleita para reforçar a articulação política do Governo brasileiro. Hoffman teria sido até a primeira escolha de Dilma para a pasta da presidência quando venceu as eleições, mas o antigo Presidente, Lula da Silva, terá persuadido a sua sucessora a eleger Palocci.

Para António Palocci, esta queda não é a primeira. É a segunda vez que o político se afasta de um cargo ministerial na sequência de um escândalo.

Em 2006, quando ocupava o cargo de ministro da Fazenda [das Finanças] do antigo Presidente Lula da Silva, o político afastou-se do Governo depois de se ter visto envolvido num escândalo relativo à quebra de sigilo bancário.

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