As perguntas do voto católico
As eleições do próximo dia 5 de Junho são uma ocasião de afirmação deste espaço político saudavelmente inorgânico
Existe na sociedade portuguesa um bloco eleitoral a que os jornais chamam "voto católico", para o qual, na esteira de 14 anos de movimentações cívicas, eleitorais e referendárias, nos apercebemos de que o critério decisivo de voto é a tutela da família e da vida, da liberdade de educação e religiosa, e da subsidiariedade. Sempre caldeado com um realismo na escolha generalizada entre os partidos maiores, mas cada vez menos permeável ao voto útil.
A demonstrá-lo mais recentemente estiveram as eleições presidenciais, como resulta da análise da perda de votos por Cavaco Silva, com predomínio nos concelhos onde o não venceu no segundo referendo do aborto, ou do exame da subida astronómica dos votos nulos e brancos, num quadro em que à esquerda se podia votar em todos os matizes possíveis.
Por outro lado, para este bloco eleitoral é claro que importa não faltar às urnas para sair deste ciclo "trágico" de seis anos em que uma avalanche de legislação abalou os fundamentos de uma convivência civilizada e sustentável na sociedade portuguesa. As leis do aborto, da procriação artificial, do casamento entre pessoas e do mesmo sexo, do divórcio e da mudança de sexo, com o seu cortejo de injustiças, infelicidade e pobreza, abriram feridas que serão difíceis de sarar. As dificuldades postas às escolas particulares, o fecho dos ATL, a retirada de crucifixos das escolas e repartições públicas, as limitações à actividade das instituições de solidariedade, a difusão da ideologia do género, a pesada carga fiscal que dificulta a vida das famílias, a equiparação das uniões de facto ao casamento, e tantas outras medidas semelhantes ajudaram a conduzir-nos à actual situação de crise e desarmaram a energia dos portugueses para a enfrentar.
Vistas assim as coisas, as eleições do próximo dia 5 de Junho são uma ocasião de afirmação deste espaço político saudavelmente inorgânico, mas encontrável na opinião publicada, na área social e cultural e na intervenção partidária no centro-direita. Um momento de discernimento do sentido de voto, não fechando as portas previamente a nenhuma conclusão. Um trabalho que começa pela formulação de três perguntas aos partidos concorrentes às eleições: que prevêem os programas eleitorais nestes temas estruturais? Que compromissos de voto tomam os candidatos em relação a esses pontos? Se por iniciativa popular for proposto referendo sobre algumas dessas matérias, qual a posição?
A resposta a essas perguntas, salvaguardado algum escrúpulo pessoal de filiação partidária, será decisiva para a orientação de voto de parte relevante do eleitorado deste bloco "do voto católico". Aos partidos interessados em perceber que a prioridade às famílias, a cultura da responsabilidade na temática da vida, a liberdade de escolha na educação e de prática religiosa na sociedade e a aplicação a todos os níveis da subsidiariedade são os mais potentes instrumentos que temos para saldar o défice, assegurar a sustentabilidade do Estado social e sair da crise em que o actual Governo nos deixou. Dirigente de movimentos cívicos desde 1997 (porcausadele.blogspot.com)