Se quiséssemos, podíamos comparar Felix Bush, o eremita que decide organizar o seu funeral em vida nos confins do Tennessee do início do século XX, a uma daquelas personagens taciturnas e descentradas de que os Coen tanto gostam.
Mas "A Lenda de Felix Bush" não é um filme dos irmãos Coen: a estreia do americano Aaron Schneider na longa, ficcionando sobre um caso real dos anos 1930, deixa fugir uma das melhores ideias do guião (a ideia da narrativa oral passada de boca em boca numa sociedade rural) e faz demasiadas tangentes ao dramalhão popularucho do segredo bem guardado. O que é compensado pela pontaria de Schneider com a atmosfera e, sobretudo, pelo elenco que soube dirigir com humildade: um Robert Duvall imperial no eremita, uma Sissy Spacek delicada numa velha amiga, um Bill Murray seco no homem da funerária. Os três, mais Lucas Black certeiro no papel do assistente da funerária que faz as vezes de "guia" do espectador, dão um festival de representação que valeria por si só o bilhete - mas que, somado ao tom rural que Schneider soube manter, torna "A Lenda de Felix Bush" numa surpresa simpática.