Governo alemão anuncia fim do nuclear no país para 2022

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Domingo, dezenas de milhares de pessoas protestaram contra o nuclear ODD ANDERSEN/afp

Alemanha protagoniza a maior redução no programa atómico

de uma potência industrial em reacção ao desastre de Fukushima

O executivo de Angela Merkel anunciou ontem que a partir de 2022 não haverá centrais nucleares a operar no país. A Alemanha torna-se assim o país industrializado a decidir a mais drástica redução do seu programa atómico depois do desastre nuclear de Fukushima, no Japão.

O anúncio marca a reversão de uma política anunciada há menos de um ano pelo mesmo Governo, e deixou muitos descontentes: internamente, a oposição social-democrata e verdes, que tem dúvidas sobre detalhes do plano (além, claro, do poderoso lobby do nuclear, que poderá ainda desafiar a decisão); externamente, por muitos que questionam a capacidade da Alemanha manter os seus compromissos com o corte de emissões de CO2.

Tentando evitar esta crítica em relação às emissões, o Governo prometeu que irá cortar a utilização de electricidade em dez por cento até 2020.

O anúncio de ontem, que se seguiu a uma maratona de sete horas de reunião da coligação entre a CDU e os Liberais, e contou com a presença em alguns momentos da oposição, já foi apelidado de "redução progressiva da redução progressiva da redução progressiva" da energia nuclear, nota a revista alemã Der Spiegel.

A primeira redução tinha sido anunciada pelo Governo de Gerhard Schröder em coligação com os Verdes, no final dos anos 1990, com um plano de encerrar, por fases, as centrais nucleares até 2020. Mas o executivo de Angela Merkel reverteu, no ano passado, esta decisão, permitindo que alguns dos 17 reactores atómicos do país funcionassem ainda mais uns anos.

Passado pouco tempo, no entanto, aconteceu o desastre nuclear de Fukushima. E Merkel não hesitou em suspender a política que pouco antes tinha anunciado e, mais, em ordenar que os sete reactores mais antigos parassem de imediato. Nesta altura, as centrais alemãs produziam cerca de 23 por cento da energia consumida no país. Enquanto isso, a chanceler ordenou uma revisão da política de energia a uma "comissão de ética".

Fukushima trouxe um aumento da oposição da opinião pública ao nuclear - o temor alemão da energia atómica é bem visível nas manifestações cíclicas e também na omnipresença do sol vermelho em fundo amarelo dizendo "nuclear não obrigado": o símbolo antinuclear está em autocolantes em bicicletas ou carrinhos de bebé, em bandeiras em varandas de prédios, em crachás nas lapelas de homens de fato ou de jovens tatuadas. Ainda no domingo, dezenas de milhares de pessoas participaram em manifestações contra a energia atómica em 20 cidades.

No dia seguinte, surgia o anúncio do Governo: depois de 2022 não haverá nenhuma central nuclear alemã a operar, garantiu o ministro do Ambiente, Norbert Rottgen. "É definitivo. Não haverá cláusulas de revisão", afirmou. As centrais têm encerramento previsto para 2021, com a possibilidade de extensão de um ano se a transição para outras fontes de energia não correr de acordo com o planeado.

Segundo este novo plano, feito com base nas recomendações da "comissão de ética", os sete reactores que tiveram actividade suspensa após o terramoto no Japão não voltarão a funcionar, com excepção de um, que será mantido em modo stand-by, para o caso de ser necessária energia extra em dias de muito frio e pouca energia solar disponível, segundo a Spiegel.

Suíça aponta para 2034

A Alemanha foi assim a primeira grande potência industrial a prometer um fim da produção de energia nuclear no seu território. Antes, a Suí-?ça tinha anunciado o fim progressivo do seu programa atómico, afirmando que não irá construir mais reactores depois de os actuais atingirem o seu fim de vida: o mais antigo fechará as portas em 2019 e o mais recente em 2034.

Esta não é a primeira vez que uma catástrofe nuclear dita o final de programas atómicos em países europeus: o programa nuclear italiano foi rejeitado em referendo em 1987, após o desastre de Tchernobil.

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