"Não somos bombeiros, seremos sempre militares"

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Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro

Quando o Adriano Miranda pediu ao sargento António Monteiro que posasse para a fotografia junto de um carvalho numa mata próxima do quartel dos Bombeiros Voluntário de Baltar, o ex-pára-quedista, de 35 anos, avançou naturalmente pelo meio dos arbustos, garantindo ser "um todo-o-terreno". É, bem vistas as coisas, uma boa definição para os elementos do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR, criado em 2006 para executar acções de prevenção e de intervenção de primeira linha em situações de emergência, nomeadamente nos fogos florestais.

Os guardas do GIPS - também conhecidos como "canarinhos", por causa da cor da farda que usam - são, pois, GNR todo-o-terreno: voam de helicóptero, são largados no meio de fogos florestais, salvam pessoas perdidas na serra da Estrela, desatascam carros no Marão, intervêm quando há derrames de materiais perigosos e ainda são chamados a reforçar as equipas do Destacamento de Intervenção.

Depois de ter prestado serviço nos pára-quedistas, com os quais chegou a estar em missão na Bósnia, em 1996, António Monteiro quis continuar ligado à vida militar e, por isso, concorreu à GNR e acabou por entrar para o Destacamento de Intervenção, a tropa de elite da guarda. Em 2003, ofereceu-se para a missão da GNR no Iraque. E, quando voltou, foi um dos primeiros a integrar o recém-criado GIPS, beneficiando da formação recebida como pára-quedista para ser chefe da brigada helitransportada especializada na intervenção rápida em fogos florestais. "Nunca me tinha ocorrido um trabalho destes, mas, face às novas exigências, é algo que gosto de fazer", assevera.

Nesta condição, passa os dias em instalações anexas ao quartel dos Bombeiros Voluntários de Baltar, no concelho de Paredes, onde há uma pista para helicópteros que o GIPS divide com o INEM. "Mas não somos bombeiros", adverte. "Somos militares da GNR e seremos sempre militares da GNR. Temos apenas uma missão específica para além das missões gerais da guarda, mais voltada para a protecção civil. Mas há muito tempo que o socorro e a protecção são funções da GNR", explica.

Enquanto GNR-que-executa-funções-de-bombeiro-mas-não-é-bombeiro, o sargento António Monteiro diz que os elementos do GIPS cumprem um trabalho "árduo" e "desgastante". "Nesta zona, embora a área ardida nunca seja muito grande, há sempre muitas ocorrências." E há também os sustos inerentes ao avanço caprichoso e imprevisível das chamas e até à utilização de um helicóptero nas deslocações. "Uma vez, numa aterragem, tivemos uma avaria no rotor da cauda e o heli começou a rodar sobre si mesmo, houve algum pânico, mas acabou tudo bem", conta.

Tendo recebido também treino para resgate em montanha, António Monteiro não tem dúvidas, ainda assim, de que o combate aos fogos florestais é mais exigente. As "intervenções" sucedem-se, no Verão, a um ritmo muito elevado, obrigando os elementos do GIPS a trabalhar de sol a sol. "Isto não é um trabalho de picar o ponto", garante.

No final da sessão fotográfica, o Adriano Miranda mostrou no monitor da Canon uma das imagens obtidas e pediu a António Monteiro que não levasse a mal o comentário, mas observou que, naquela imagem, o guarda parecia mesmo um dos brinquedos guerreiros Action Man. Também faz sentido.

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