Tiago Pereira criou uma "Sinfonia Imaterial" da música portuguesa

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Sinfonia Imaterial é um abrangente retrato musical do país real§ do cante alentejano à senhora do reco-reco DR

Entre Março e Abril deste ano, Tiago Pereira partiu pelo país com uma câmara e encontrou isto que vemos em "Sinfonia Imaterial", o seu novo filme. De Sul a Norte: do cante alentejano feminino à dança dos Pauliteiros de Miranda. Do centro para as ilhas: dos imponentes bombos de Paul, na Covilhã, à mulher de 91 anos que toca guitarra portuguesa no Faial e aos violinos e cavaquinhos parentes do cajun e do blues em Porto Santo. Novos e velhos, gente muito séria e gente de sorriso matreiro, amadores que desafinam e instrumentistas de excepção. Tudo filmado em plano fixo e enquadrado na paisagem natural, em tascas ou em salas de estar de casas anónimas - e sem outra informação para além das legendas que identificam temas, instrumentos e lugares. O filme, uma encomenda da Fundação Inatel coproduzida pela associação Pé de Xumbo, estreou-se quinta-feira no Cinema City Classic Alvalade, em Lisboa, onde ficará em exibição até 1 de Junho, antes partir em digressão pelo país.


"Sinfonia Imaterial" pretende mostrar que, aqui e agora, existe um país com uma vivíssima tradição musical feita de "milhares de influências", o que nos permite pressentir algo da "Galiza, de África, do Brasil, dos países nórdicos ou da Índia sem nunca sair de Portugal". Tal como o nome indica, não é exactamente um documentário. "Era importante mostrar que todos aqueles projectos musicais misturados podiam ter uma força sinfónica sem maestro, ou com um maestro virtual, que era eu", explica o realizador. Nessa ausência de qualquer outro discurso para além do cantado, "Sinfonia Imaterial" distingue-se de trabalhos anteriores de Tiago Pereira, como "B Fachada - Tradição Oral Contemporânea" ou "Significado". Aqui, leva esse anseio às últimas consequências, criando um mosaico musical em que os vozes e instrumentos se cruzam para criar combinações surpreendentes. O olhar é, portanto, de músico (está-lhe nos genes, ou não fosse ele filho de Júlio Pereira). "Há muito tempo que queria percorrer o país todo de repente, para manter a cabeça fresca e para conseguir mais facilmente estabelecer relações musicais entre todo o material." A preocupação principal era mostrar uma realidade em constante mutação. "O filme tem jovens e velhos, para mostrar que a tradição está viva, que quando acabarem estes responsos e estes instrumentos outros tomarão o seu lugar e serão tão ricos e tão estranhos como os de agora".


"Sinfonia Imaterial" surge paralelamente a "A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria", um arquivo abrangente de vídeos musicais que Tiago Pereira tem vindo a recolher nos últimos quatro meses. Neste momento, conta já com centenas de vídeos (alojados em vimeo.com/channels/musicaportuguesa): cabem ali cantores tradicionais e músicos jazz, improvisadores ou bandas pop. Entretanto, "A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria" alargou-se a sete realizadores. E saltou para a realidade: esta noite, estará no Open Day da LX Factory, com actuações de Cão da Morte, Filho da Mãe, Azevedo Silva ou Joana Guerra.

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