Doenças da tiróide já afectam mais de um milhão de portugueses
Os dados divulgados pelo Grupo de Estudos da Tiróide da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo pretendem alertar a população para a dimensão das patologias relacionadas com esta glândula por ocasião do Dia Mundial da Tiróide que hoje se assinala.
As doenças relacionadas com a tiróide, uma das glândulas endócrinas mais importantes do corpo e que se situa na zona do pescoço, afectam sobretudo as mulheres (80 por cento) a partir dos 35 anos, sendo o hipotiroidismo e o hipertiroidismo as patologias mais comuns e que se traduzem numa anomalia que faz com que a glândula produza a hormona tiróidea em quantidades insuficientes ou excessivas. Os sintomas causam desconforto no dia-a-dia mas são muitas vezes ignorados ou confundidos com outras situações. Cansaço constante, memória enfraquecida, irritabilidade, dificuldade em dormir, alterações no peso, depressão são alguns dos possíveis sinais, sendo mais grave durante a gravidez.
Este ano o Dia Mundial da Tiróide é dedicado à doença nodular, isto é aos nódulos que podem aparecer na glândula e à necessidade de os diagnosticar precocemente para evitar que evoluam para um cancro. Dados do Grupo de Estudos da Tiróide indicam que pelo menos uma em cada 15 mulheres e um em cada 60 homens em Portugal tem um nódulo na tiróide – que muitas vezes pode ser sentido ao toque e posteriormente aprofundado com exames complementares.
“Havendo uma elevada prevalência de nódulos da tiróide na população em geral, a importância da detecção precoce desta patologia deve-se sobretudo ao risco de carcinoma. No entanto, apenas cinco a dez por cento dos nódulos da tiróide são malignos. O prognóstico do carcinoma da tiróide é, em geral, excelente, embora cerca de 20 por cento dos casos possam ter um prognóstico mais reservado. O diagnóstico e tratamento precoces do carcinoma da tiróide, são, no entanto, determinante”, alerta o grupo, em comunicado.
Os especialistas defendem também que após o diagnóstico e tratamento é importante que os doentes continuem a ser vigiados periodicamente, mas sublinham que para a população em geral “o pedido de exames deve ser criterioso” para se evitar um excesso de diagnósticos de pequenos nódulos sem relevância clínica.
Falta de iodoOs problemas da tiróide podem também afectar as crianças, sendo a carência de iodo (presente do sal) uma das causas mais comuns, à semelhança do que acontece nos adultos. Aliás, o estudo Aporte do Iodo em Portugal, desenvolvido pelo Grupo de Estudos da Tiróide, com o apoio da farmacêutica Merck Serono e apresentado em Janeiro no âmbito do Congresso Português de Endocrinologia, mostrou que há muito a fazer neste campo: quase metade das crianças portuguesas em idade escolar têm carência de iodo, sendo que 35,1 por cento têm um aporte de iodo ligeiramente insuficiente, 11,8 moderadamente insuficiente e 2,2 uma carência grave – valores que potenciam possíveis problemas na tiróide, que se podem traduzir, por exemplo, em défices cognitivos e de crescimento e, nos casos mais graves, em doenças como o bócio. Dados igualmente preocupantes tinham sido encontrados num estudo feito em grávidas.
Para alertar para estas patologias o Grupo de Estudos da Tiróide, em parceria com a Federação Internacional da Tiróide e a Merck Serono, vai estar durante toda esta quarta-feira na Gare do Oriente, em Lisboa, com uma sessão de sensibilização e informação, onde serão divulgados os sintomas, causas e tratamentos. Será também pedido aos participantes que se deixem fotografar e colocar a fotografia na página do Facebook dedicada à Semana Internacional da Tiróide 2011. Serão, ainda, distribuídos folhetos nos hospitais e centros de saúde.
No Porto decorrerá também hoje o seminário “A Tiróide e as suas doenças”, a ter lugar no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup). Este seminário terá como objectivo esclarecer diversas questões relacionadas com a tiróide, podendo ser um ponto de partida para a criação da primeira Associação de Doentes da Tiróide em Portugal, à semelhança do que acontece já em muitos outros países.