Quem tem Fomo?

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Com frequência questionam-me se, na área da cultura, não existe a tentação de apontar tendências e falar de novos protagonistas, apenas pelo efeito de novidade. Sim, mas também acontece na economia, na política ou na ciência, depararmo-nos com novas narrativas para perguntas de sempre.

No caso da ciência os media avançam com regularidade com descobertas novas e absolutas, o que é problemático para quem lida com probabilidades. Nas novidades médicas então é um ver se te avias. Quase todos os dias o nosso comportamento é inventariado com novas etiquetas.

Lembrei-me disso ao ler sobre Fomo (Feelings Of Missing Out), uma nova enfermidade, ou a velha sensação de exclusão e de nos estar a passar algo ao lado, num contexto onde somos submergidos por informação e nos é pedido, em todos os instantes, que selecionemos de forma acertada.

Quem é afectado pelo Fomo desenvolve uma sensação de desapontamento, de alguma inveja e até de irritação, por sentir-se excluído de qualquer coisa que outros parecem usufruir, receando estar a desperdiçar o tempo livre.

Está sentado em casa num sábado à noite, está indeciso entre sair ou ler um livro, mas em vez de relaxar, fica ansioso, e começa a pensar que um grupo de amigos está numa festa. Até pode acabar por ir à festa, mas chegado lá, começa a fantasiar que, algures, deve estar a decorrer outra melhor.

Outra versão é estar em casa e abandonar-se ao Facebook onde, invariavelmente, os amigos parecem ter uma vida fantástica e dinâmica, rodeados de outros amigos estupendos, que sorriem todos nas fotografias.

Nessas circunstâncias se ficar perturbado, sensação de estar a perder algo, está com Fomo. O sentimento não é novo, mas é como se a popularização das Redes Sociais e das aplicações baseadas na localização permitissem uma nova consciência do que as pessoas à nossa volta estão a fazer.

Há alguns anos íamos almoçar com um amigo para saber as novidades do fim de semana, agora esse mesmo amigo passa o tempo a enviar-nos fotos do concerto que está a acontecer ao lado de nossa casa sábado à noite. Temos informação em tempo real. Com um simples telemóvel as opções tornam-se excessivas, as hipóteses de termos outra coisa para fazer cresce.

O Fomo resulta do facto da nossa relação com a tecnologia ainda ser imatura e de não sabermos como organizar o fluxo de informação.

A única coisa a fazer é interrogarmo-nos se queremos mesmo aquela coisa que parecemos querer e lembrarmo-nos que só há uma coisa pior do que não se conseguir o que se quer, que é realmente conseguir. Confusos?

Quantas vezes não ouvimos a história do marido que tinha uma relação extraconjugal, que sonhava com a hora em que a esposa desapareceria de cena, para viver com a amante, e quando isso finalmente acontece, a sua existência desmorona-se e percebe que, afinal, também não quer a amante?

Jornalista

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