Ambientalistas galegos e portugueses unem esforços para protecção de ave em risco
Espécie que nidifica por esta altura do ano nas praias portuguesas, o borrelho é ameaçado pela presença de veraneantes que, muitas vezes inadvertidamente, lhe destroem os ovos
Ambientalistas portugueses e galegos uniram-se na defesa do borrelho-de-coleira-interrompida, ave que é o símbolo do Parque Natural do Litoral Norte e que nidifica por esta altura do ano nas praias portuguesas. Os seus ovos são postos em zonas de areal frequentadas pelos primeiros veraneantes, que, muitas vezes inadvertidamente, os destroem, pondo assim em risco a população daquela espécie. A destruição está a preocupar associações ambientalistas tanto do Norte de Portugal como da Galiza, que decidiram colocar em marcha um projecto para a preservação desta ave nos municípios de Viana do Castelo, Caminha e La Guardia (Galiza).
O borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) mede entre 15 e 17 centímetros, possui uma coloração que lhe permite dissimular-se na zona da duna primária, confundindo-se com a vegetação e o areal. É uma ave limícola [das zonas húmidas, lodosas] que pode ser encontrada em toda a faixa costeira portuguesa, do Minho ao Algarve. Nidifica nas praias, sendo a postura feita entre Abril e Junho. Os ovos, quase sempre três, são de cor creme com manchas castanhas, o que os torna quase imperceptíveis na areia.
Gaiolas protectoras
"É uma ave bastante ameaçada pela actividade humana, precisamente porque nidifica no meio do areal. As posturas não têm qualquer protecção e a nidificação é bastante tardia em relação ao período de nidificação de outras aves", explica José Gualdino, presidente da Corema.Esta associação ambientalista, com sede no município de Caminha, participa na campanha lançada pela Anabam, associação naturalista do Baixo Minho, com o objectivo de salvar os ovos postos pelo borrelho-de-colarinho-interrompido, de forma a evitar que a espécie entre em extinção. Para isso, estão a ser realizadas acções de identificação dos ninhos e a respectiva sinalização.Catorze entidades, entre elas várias outras associações ambientalistas, a Capitania do Porto de Caminha e o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade estão a colocar "gaiolas" em rede nos ninhos encontrados e a vedar os locais com fitas ao redor num raio de dez metros. "Estas gaiolas em arame impedem que as posturas sejam destruídas, mas permitem que as aves possam entrar e sair. Impedem é outras aves que são predadoras, como é o caso das gaivotas e dos corvos, de entrarem e destruírem as posturas", explica o presidente da Corema.
Adoptar um ninhoPara além da protecção dos ninhos, o projecto prevê ainda a realização de acções de sensibilização junto dos utilizadores das praias, com especial ênfase para a comunidade escolar local. É nesta fase que se junta ao projecto a Câmara de Caminha que, segundo o vereador com o pelouro do Ambiente, Flamiano Martins, tem por missão "tentar inverter esta situação e, assim, preservar a biodiversidade" na área do concelho.Na praia de Moledo, onde as acções preventivas já foram colocadas em prática, foram identificados cinco ninhos de borrelho-de-colarinho-interrompido. Um número que o ambientalista José Gualdino espera ver multiplicado já no próximo ano.
A par deste projecto, a Anabam tem em curso a adopção de ninhos de borrelho. Segundo fonte daquela associação ambientalista galega, o objectivo é exactamente o mesmo, mas, neste caso, envolve a sociedade civil. Esta adopção consiste em atribuir a grupos de pessoas a responsabilidade pelas medidas de protecção ao ninho de borrego numa determinada praia. Os adoptantes fazem a monitorização do refúgio e acompanham a evolução das crias de borrelho.