Intervenção anti-sismo em edifícios antigos “não é tão comum como isso”

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A segurança de zonas históricas como a de Lisboa é falada sempre que ocorre um sismo como o de Lorca Enric Vives Rubio (arquivo)

Como é que um sismo de com uma magnitude de 5,2, considerado insuficiente para produzir um “efeito colapso”, conseguiu provocar o conhecido grau de destruição e, números apurados até agora, nove mortes em Lorca?

Há um factor importante a ter em conta na resposta a esta questão, que é a profundidade a que ocorreu o sismo. Em declarações ontem ao PÚBLICO, o geofísico Miguel Miranda, presidente do Instituto Geofísico do Infante D. Luiz, em Lisboa, explicava que o efeito destrutivo deste sismo de Lorca se deve ao facto de a ruptura na crosta terrestre que desencadeou o segundo abalo sísmico (um primeiro tinha sido de 4,5) ter sido superficial – a apenas dez quilómetros de profundidade.

Luís Matias, geólogo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembra, a título de comparação, o sismo de Benavente, de 1909, que arrasou a vila com uma magnitude de 6.1 ou 6,2, o mais destrutivo do século XX português, com 46 mortos. “Não se sabe a profundidade a que ocorreu ao certo, na altura não se media, mas pensa-se que também tenha sido muito superficial”. E isso justifica que, apesar do grau de destruição, Lisboa tenha sido pouco afectada. Já no terramoto de 1969, com magnitude de mais de 7, não houve este grau de destruição, uma vez que ocorreu a cerca de 200 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente, mas o sismo sentiu-se em todo o país. E Luís Matias lembra ainda outro exemplo: “Em 1998, no Faial, o sismo não chegou a magnitude 6 e morreram dez pessoas. Moravam em casas de pedra que desabaram”.

O exemplo do Faial lançado por Luís Matias lança o debate sobre um dos aspectos mais importantes a ter em conta para entender o impacto destrutivo do sismo de Lorca: a resistência da construção antiga a estes fenómenos. Também os geólogos espanhóis já levantaram essa questão um dia depois deste sismo numa zona antiga, e que tem o maior risco sísmico da Península Ibérica. “Um terramoto de 5,2 na escala de Richter não tem a intensidade suficiente para produzir efeito colapso. Os danos produzidos devem-se a danos prévios”, disse ao diário espanhol “El Mundo” Luis Suárez, presidente do Colégio de Geólogos espanhol.

E a questão da fragilidade das construções em zonas históricas com risco sísmico traz a debate logo o caso da cidade de Lisboa, com um parque habitacional muito antigo.

O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos lembra que, apesar do regulamento anti-sísmico para a construção só ser aplicável à construção feita desde 1958, altura em que o regulamento foi aprovado (e que já conta com várias actualizações desde então), a reabilitação de habitações antigas devia ter em conta também essas normas de minimização do risco. Mas isso não é assim tão comum.

“A reabilitação não pode ser só estética, tem de ter em conta as estruturas e a resistência anti-sísmica. Devem aproveitar-se essas oportunidades para reforçar as construções em termos de segurança para a vida humana. E não é assim tão comum como isso que tal aconteça”, alerta o bastonário.

Carlos Matias Ramos frisa ainda que tal só não acontece sempre porque os responsáveis pela reabilitação não querem. “Nada é fácil. Mas há conhecimento suficiente e abordagem técnica para intervir nesta área. Se não fizerem é porque não querem. E não sai assim tão caro. O que é caro é deixar um edifício cair, ou perderem-se vidas”.

O bastonário lembra ainda que a excelência técnica da engenharia civil portuguesa fez com que a União Europeia decidisse instalar no Laboratório Nacional de Engenharia Civil o secretariado do equivalente europeu do nosso regulamento anti-sísmico, o chamado Eurocódigo 8.

Sobre a qualidade da construção nova, no que toca à resistência sísmica, Carlos Matias Ramos explica: “O risco nulo não existe. Quando andamos de carro também não é certo que não se morra, apesar das normas de segurança na construção dos carros. Não se pretende que o edifício não sofra nada. Mas pretende-se que não ponha a vida das pessoas em risco”.

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