Alterações na rede viária ameaçam Bairro do Cruzinho

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Catorze dos 17 agregados residentes vão pedir habitação municipal NELSON GARRIDO

Dono do terreno quer construir no terreno, para onde também se prevê a abertura de uma nova rua, entre Júlio Dinis e Barbosa Bocage

O velho Bairro operário do Cruzinho, no Porto, deverá ter os dias contados. A Câmara do Porto e o proprietário do conjunto habitacional retomaram as conversações iniciadas já em 2002, com vista a possibilitar uma reorganização urbanística e viária daquela zona da freguesia de Massarelos. Para já, não há nenhum destino definido para o terreno do bairro, mas a grande maioria dos moradores está disposta a sair.

Em Dezembro do ano passado, Joaquim Poças Almeida, proprietário do bairro, reuniu-se com o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Gonçalo Gonçalves. O empresário queria saber se era exequível a ideia que tinha para os terrenos do bairro operário e não só. "O que levei não era um projecto. Um projecto custa muito dinheiro. Era mais um estudo", explica ao PÚBLICO.

No encontro, Gonçalo Gonçalves terá apontado para a inviabilidade daquela proposta, mas - conforme o vereador explicou na última reunião de câmara, altura em que o assunto foi abordado - deixou a porta aberta à análise de um outro projecto, que cumprisse o Plano Director Municipal (PDM) da cidade. "Por enquanto, não há projecto nenhum. Nem sei exactamente o que poderei querer fazer ali, nem se venderei o terreno", garante Poças Almeida. O empresário acrescenta, contudo, que o encontro deu outros frutos.

Segundo o proprietário do Cruzinho e o presidente da Junta de de Massarelos, José Carlos Gonçalves (que também esteve presente na reunião de Dezembro), o encontro permitiu ainda retomar conversações sobre uma velha aspiração da autarquia para esta zona da freguesia: a abertura de uma nova rua, aliás prevista no PDM. "Além de se analisar a proposta [urbanística] do proprietário, a reunião serviu também para falar sobre a questão social dos moradores e sobre a rede viária", explica José Carlos Gonçalves. "O PDM prevê a abertura de uma nova via entre as ruas de Barbosa Bocage e Júlio Dinis, existindo também a possibilidade de alargar a Rua do Bom Sucesso, que está estrangulada numa parte", acrescenta o autarca.

Os terrenos abrangidos por estas intervenções pertencem a Joaquim Poças Almeida, tocando de forma pouco expressiva no local onde está edificado o Bairro do Cruzinho. Em 2002, o empresário celebrou "um memorando de entendimento" com a autarquia, mostrando-se disponível a negociar com a câmara a cedência daqueles terrenos. "Não há pressa nenhuma, para já não está nada previsto em concreto. O que fizemos foi agilizar o processo, que permite a abertura da nova rua, e eu propus que, em simultâneo, se tratasse da questão dos moradores", diz o proprietário do bairro.

Por isso, em Janeiro deste ano, a maioria dos habitantes do Cruzinho recebeu uma carta de Poças Almeida, na qual se informava que "está aberta a possibilidade de alojamento, por acordo da Câmara do Porto e o proprietário, em casas a ceder pelo município em diversos locais da cidade do Porto, conforme reuniões havidas entre as partes". A carta tinha anexa uma lista de documentos solicitados pela empresa municipal DomusSocial, que deveriam ser entregues na Junta de Massarelos.

José Carlos Gonçalves confirma que a junta se disponibilizou a receber os processos dos moradores, mas acrescenta que os mesmos foram já entregues a Poças Almeida, para que este instrua, até 15 de Maio, os pedidos de habitação à DomusSocial.

O futuro dos moradores do Bairro do Cruzinho foi abordado, na reunião de câmara da semana passada, pelo vereador da CDU Rui Sá, que questionou a vereadora da Habitação, Matildes Alves, sobre o acordo referido nas cartas. Na altura, a vereadora disse desconhecer o processo, o que o autarca de Massarelos considera natural, naquela fase. "Não fazia sentido fazermos o caminho inverso. Tínhamos de perceber de quantos agregados estávamos a falar, antes de contactarmos a Domus. Por acaso, todos os que entregaram os documentos têm condições para solicitar habitação social", diz.

Segundo Poças Almeida, actualmente, vivem 17 agregados familiares no Cruzinhos. Destes, 14 enviaram documentação à junta, com vista à solicitação de habitação social. "Nada disto é imediato. O que procuro com a câmara é um entendimento, com vista a uma permuta de terrenos e, em simultâneo, dar solução às pessoas. Com algumas até já há um entendimento alternativo para saírem. As que entregaram os documentos para solicitar casa camarária terão de esperar, porque cabe à DomusSocial dizer se terão ou não direito a alojamento", frisa Poças Almeida.

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