América combina a seriedade do tema com um tom de comédia truculenta.

Era muito importante que pelo meio do tom surrealista, um pouco burlesco, que o filme tem, houvesse uma autenticidade que tocasse, que tem a ver com os dramas humanos, as tragédias pessoais das personagens. Estou muito contente com o trabalho extraordinário dos actores, com os acidentes felizes que aconteceram durante as rodagens.

O filme é uma produção confortável para os padrões portugueses...

É, para uma primeira obra, mas o facto de ter esses meios todos acaba por ser um colete de forças para os próprios objectivos que quero alcançar. O cinema é um processo até chegar à decisão final e não tive o luxo do tempo. No 4 Semanas, 3 Meses e 2 Dias, um filme com muitos poucos meios, há uma cena num jantar de aniversário, que é um plano único em cima da cara da actriz principal. Ora eles levaram uma semana a chegar ali - puseram a câmara em vários sítios e foram experimentando. Eu, para filmar cenas corais com vários actores, tinha quatro horas porque no dia seguinte um viajava para a Rússia e já não conseguia ter todos juntos outra vez...

Como é que é passar da publicidade para o cinema?

Faço publicidade por duas razões. Primeira, permite-me estar sempre a filmar, que é aquilo que eu mais gosto. A outra é para pagar a renda. O cinema e a publicidade são processos completamente diferentes e foi muito engraçado perceber isso durante a primeira semana de rodagem, confrontar a teoria com a prática... Mais do que ninguém sou o maior crítico do filme e só ter conseguido fazê-lo é uma vitória. Foram oito anos desde que comecei a pensar nele e a montagem financeira levou quatro anos. O melhor prémio que me podem dar neste momento é eu poder fazer o próximo.

"América", de João Nuno Pinto, passa hoje às 21h30 no Grande Auditório da Culturgest e chega às salas a 26 de Maio. Site oficial: http://www.americafilme.com/