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Americanos esperam que a guerra que não tinha fim à vista possa agora terminar

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No 11 de Setembro morreram cerca de 3000 pessoas Spencer Platt/Getty Images/afp

Foram precisos dez anos de guerra para os americanos purgarem o dia mais infame da sua história e finalmente gritarem "missão cumprida"

Há dez anos, quando os americanos saíram para as ruas de Nova Iorque e Washington em choque depois do pior ataque terrorista da sua história, agitavam as bandeiras em silêncio. Com lágrimas, raiva e medo - e a perfeita consciência de que, nesse fatídico dia 11 de Setembro, o país mudara irreversivelmente.

Osama Bin Laden, então um nome conhecido só para uma reduzida comunidade de especialistas em segurança, tornou-se o rosto do terrorismo global, o "inimigo público número um" não só dos Estados Unidos mas da humanidade. No caos dos escombros do World Trade Center, megafone na mão, o Presidente George W. Bush prometeu não lhe dar tréguas: "Vivo ou morto".

Ontem, quando as bandeiras inesperadamente voltaram aos lugares "sagrados" de Nova Iorque e Washington, a emoção não era contida e a nova onda de patriotismo revelava, sobretudo, satisfação e alívio. Os americanos reconhecem que a morte de Osama não põe fim ao terrorismo global nem dissolve as ameaças à sua segurança. Mas sabem que, com a morte do fundador da Al-Qaeda, a "missão" foi finalmente cumprida. E pressentem que a guerra que não tinha fim à vista poderá estar prestes a terminar.

Como repetiu a secretária de Estado, Hillary Clinton, a guerra dos Estados Unidos não é contra o islão nem o Afeganistão, é contra o terror promovido pela Al-Qaeda. "A nossa mensagem para os taliban é a mesma, mas agora tem uma nova ressonância. Vocês não nos vão vencer pelo cansaço, vocês não nos vão derrotar. Vocês podem escolher abandonar a Al-Qaeda e participar pacificamente no processo político", declarou.

As palavras de Clinton só alimentaram o frenesim dos analistas, que especulavam sobre as novas possibilidades que a morte do líder máximo da Al-Qaeda oferece à Casa Branca na condução da guerra do Afeganistão.

As suas previsões eram de uma acentuada "erosão" no apoio popular ao prolongamento da operação militar de quase dez anos. "Na imaginação colectiva, a captura de Bin Laden significa vitória, por isso para a maior parte dos americanos a sua morte significa o fim da guerra. Não vejo nenhum entusiasmo pela manutenção da missão [no Afeganistão]", escreveu o analista David Weigel, na Slate.

O dia do horror

Mas antes de decidir o futuro, os EUA precisaram ontem de um dia de pausa, para lembrar e homenagear as 3000 vítimas do 11 de Setembro e expurgar o horror que viveram naquela fatídica terça-feira encomendada por Osama Bin Laden no isolamento das montanhas do Afeganistão.

Em Nova Iorque, o terror começou às 8h46, quando os escritórios das torres gémeas do World Trade Center, no coração financeiro da cidade, começavam a encher-se: cinco piratas atiraram um gigantesco Boeing 767 contra a torre norte. Passados 17 minutos, o voo UA 175 embatia contra a torre sul. Ainda antes das 10h30, os edifícios tinham desaparecido num cogumelo de fogo, fumo e entulho: 2752 pessoas, de 90 nacionalidades, perderam a vida.

Em Washington, às 9h37, o voo AA 77 esmagava-se contra uma das paredes do Pentágono, símbolo do poder militar americano, matando 184 pessoas e confirmando o impensável. A vulnerabilidade da única superpotência mundial cruamente exposta: os Estados Unidos estavam sob ataque, e aparentemente indefesos.

Os terroristas ainda desviaram um outro avião, o voo 93 da United Airlines, com destino a San Francisco, que se despenhou próximo de Shanksville, na Pensilvânia, com 33 passageiros a bordo. O alvo desse quarto voo poderia ser o edifício do Capitólio ou a Casa Branca, em Washington.

No final da manhã, a Agência Nacional de Segurança identificava a Al-Qaeda como a organização por trás dos ataques, e transformava Osama Bin Laden no homem mais odiado (e mais procurado) do mundo.

As mudanças que Bin Laden provocou na América foram imediatas e profundas. O seu aparecimento forçou a maior revisão e reorganização do Governo dos Estados Unidos, com a criação de um novo Departamento de Segurança Interna, a extraordinária expansão dos poderes presidenciais, a aprovação do pacote legislativo designado como o "Acto Patriótico" autorizando a vigilância de cidadãos sem aprovação judicial, e a banalização das rendições extraordinárias de prisões secretas para o campo militar de Guantánamo (e subsequente recurso a "técnicas agressivas de interrogatório" equivalentes a tortura).

A guerra no Afeganistão começou oficialmente a 7 de Outubro, com os primeiros bombardeamentos. Sancionada pelo Conselho de Segurança da ONU, a ofensiva militar tinha o objectivo declarado de eliminar o regime taliban que protegia Bin Laden. Dois anos mais tarde, os EUA abririam uma nova frente de combate, desta vez sem a unanimidade internacional. A 20 de Março de 2003, as tropas americanas invadiram o Iraque, na expectativa de destruir o suposto programa de armas de destruição maciça de Saddam Hussein, acusado de apoiar a Al-Qaeda.

As duas guerras acabaram por ter custos elevadíssimos ("de sangue e de tesouraria", como dizem os americanos) para o país e o mundo, e até ontem continuava a ser um acto de extrema boa vontade vislumbrar algum "sucesso" na guerra global contra o terrorismo.

Promessa cumprida

A imprensa americana celebrava ontem o simbolismo da morte de Bin Laden como o definitivo ponto final de uma década terrível para a América e os americanos. A questão que se coloca agora é saber até que ponto o desaparecimento do líder da Al-Qaeda voltará a forçar mudanças profundas nos EUA.

"As guerras do Iraque e Afeganistão têm as suas próprias lógicas e dinâmicas, e é difícil prever que sejam substancialmente afectadas. Também não é provável que o Governo promova uma nova revisão dos seus poderes, ou que os aeroportos relaxem as suas medidas de segurança", notava o analista de política interna do Washington Post Ezra Klein. "Muito do que mudou na sequência do 11 de Setembro foi escolhido por nós, não decidido por Bin Laden. Quando muito, a sua morte lembra-nos que seremos outra vez nós a escolher o que queremos voltar a rever e a mudar", considerou.

De certa maneira, o novo capítulo da História americana ontem consagrado já tinha tido um prólogo com a eleição de Barack Obama em 2008. A dramática situação económica do país entretanto esfumou essa sensação de fim/início de uma era, mas ontem os americanos lembraram que, antes de falar sobre a economia, o então candidato Obama tinha-lhes prometido retirar as tropas do Iraque, desviar a atenção e os recursos outra vez para o Afeganistão e - inequivocamente - capturar Bin Laden e destruir a Al-Qaeda.

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