Torne-se perito

Doentes devem reclamar participação em ensaios clínicos

"É muito importante que os doentes peçam aos seus médicos para participar em ensaios clínicos". O apelo é feito pela directora da Unidade de Cancro de Mama da Fundação Champalimaud, Fátima Cardoso, que se mostra desalentada por, sete meses depois de ter chegado a Portugal, já ter recebido duas recusas de empresas farmacêuticas para financiamento de ensaios clínicos. "Não querem, dizem que somos desorganizados, demorados demais e demasiado caros. A fundação tem um edifício lindíssimo que por enquanto está vazio", lamentou-se, anteontem à noite, durante um debate sobre o tema, no Porto.

"A Fundação Champalimaud não pode funcionar isolada. Só vai ser possível abrir ensaios clínicos se houver cinco ou seis centros organizados em Portugal". E para isso vai ser preciso mudar mentalidades e ultrapassar barreiras ao nível dos profissionais de saúde e administradores hospitalares, sublinha a investigadora. Daí o apelo aos doentes para que façam pressão e perguntas sobre estes estudos que visam determinar a segurança e a eficácia de um medicamento ou tratamento e os seus efeitos adversos. "Quando os doentes começarem a exigir, [os ensaios] vão começar a surgir", acredita.

A realidade actual não parece animadora: Fátima Cardoso estima que serão menos de dois por cento os doentes oncológicos adultos que em Portugal participam em ensaios clínicos. Nos Estados Unidos, a percentagem ronda os 10 por cento. Além disso, em Portugal os doentes entram nos ensaios em fases tardias de desenvolvimento dos estudos, nota.

Admitindo que Portugal está a ser preterido em favor de outros países e que é necessário haver organização e estruturas para que a situação se altere, José Dinis, responsável pela Unidade de Investigação Clínica do IPO do Porto, traça um quadro mais optimista. "Já tenho ensaios competitivos", assegura. No cancro de pulmão, o IPO do Porto está presente em ensaios clínicos de primeira linha. Outras patologias, como o cancro da mama, são mais complicadas, admite, porque estão em causa doenças arrastadas e em que os estudos demoram anos. Além disso, é mais fácil colocar doentes em fase terminal nos ensaios, quando já não existem alternativas. O IPO do Porto quer, aliás, abrir um centro de fase I. "Vamos ver se a crise não afecta este projecto."

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