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A última sessão do Parlamento foi a despedida de Jaime Gama

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Mota Amaral em saudação a Jaime Gama, ontem no Parlamento rui gaudêncio

A última sessão parlamentar da XI Legislatura - quando dirigentes socialistas começavam timidamente a admitir um pedido de ajuda financeira externa - foi o momento escolhido para o Presidente da Assembleia anunciar a despedida. Já não será candidato a deputado nas próximas eleições porque "a vida política também tem de ter um fim", justificou Jaime Gama. O vice-presidente da Assembleia Vera Jardim, deputado do PS, também já não será candidato, apurou o PÚBLICO.

Um aplauso de pé, de deputados de todas as bancadas, recebeu a notícia da despedida de Jaime Gama de 35 anos de vida política. Foi deputado (desde 1976), ministro da Administração Interna, dos Negócios Estrangeiros e teve também a pasta da Defesa. Na hora do adeus, o presidente da Assembleia da República gracejou: "Sr. deputado Jaime Gama, terminou o seu tempo".

Na última sessão parlamentar, antes da notícia sobre o pedido de ajuda externa se abater no plenário, ao final da tarde de ontem, o cenário começou a pairar no discurso de dirigentes socialistas no período de intervenções políticas. O primeiro foi o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, a admitir que numa "situação excepcional" de degradação das condições de financiamento, um Governo de gestão poderia responder de forma "excepcional" com um pedido de ajuda. Momentos mais tarde, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, falava no financiamento externo - sempre recusado pelo primeiro-ministro - mas no condicional: "Se tiver que agir em matéria de financiamento externo, o Governo agirá patrioticamente como sempre em defesa do interesse nacional".

Jorge Lacão ensaiou também o discurso que viria a ser reiterado pelo primeiro-ministro na comunicação ao país pela televisão. O PSD "pensou passar uma rasteira ao Governo, mas acabou por passar uma rasteira ao país", disse o ministro, numa alusão às descidas de rating, e ao aumento dos juros da dívida.

Mas nem mesmo entre os socialistas o Governo de Sócrates saiu ileso. Francisco Assis criticou o "excesso de conflitualidade" nesta legislatura e disse esperar que na próxima seja corrigida a atitude de considerar que "todo o compromisso é uma traição". O líder da bancada socialista considerou mesmo ser "sinal de fraqueza não ter disponibilidade para os compromissos".

Pela bancada do PSD, o deputado Mota Amaral assinalou a teimosia do Governo em "adoptar providências de emergência", agravando o estado de "alerta vermelho" da situação financeira do país. À esquerda, o PCP escolheu como alvo a recusa da banca em financiar mais o Estado português. Para o líder da bancada comunista, Bernardino Soares, a situação configura uma "clara cartelização" que "pelos vistos foi combinada, pasme-se, numa reunião com o Banco de Portugal". Já o líder da bancada bloquista viu neste comportamento uma "chantagem à democracia". "É um golpe de Estado palaciano que pretende ditar, fora da democracia e contra ela, o destino do país no próximo futuro", disse José Manuel Pureza.

A última sessão parlamentar ficou também marcada por uma maratona de duas horas de votações em que foram apreciados 50 diplomas e oito votos de pesar e de congratulação (ver texto nesta página). com S.J.A.

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