Mas não sabiam que a música se enrolaria de tal forma nos ouvidos dos portugueses (essa entidade abstracta a que só se referem discursantes políticos e participantes em "reality shows") que acabariam 2010 a tocá-la na Gala de Natal da TVI ou a partilhá-la com os alunos da Operação Triunfo. Não sabiam tanto. "G", um momento de descompressão entre o primeiro e o segundo álbum, e de oferta limitada para os fãs, ganhou a sua própria ambição e não se satisfez com a condição de filho menor que o formato EP lhe conferia. Não sendo propriamente um álbum de pleno direito, "inchou" duas músicas - a versão que agora segue para as lojas junta aos cinco temas iniciais uma versão e um inédito - e é bem capaz de ser o único material novo que vamos ouvir aos Golpes durante 2011. É como espreitar para dentro de um comboio em andamento e perceber o que se passa lá dentro. Ou seja: muito embora se faça valer de trunfos como "Vá lá senhora" e conte com uma óptima visita ao tema popular "Tenho barcos, tenho remos" (conforme cantado por Zeca Afonso), a verdade é que não são as novas "Paixão" (dos Heróis do Mar) e "A Brasileira" a aproximar "G" da mesma consistência de álbum que tinha "Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco". Percebe-se que este não será este um ponto de chegada, mas antes um estudo e um ensaio bastante acabados daquilo que se imagina vir a ser o segundo álbum do grupo. Mas há uma dose de audácia e mesmo de insolência que devemos saudar n'Os Golpes. A versão de "Paixão", evoluída a partir daquela que prepararam para os concertos de apresentação, brinca com o fogo, como é evidente. Sendo bastante digna e suficientemente personalizada (mais adequada para palcos de guitarra em punho do que para as discotecas de keytar - também conhecido por teclado à Da Vinci - à tiracolo), a verdade é que Os Golpes já têm em si suficiente de Heróis do Mar para que a escolha possa soar redundante e incapaz de tocar a alta fasquia do original. "G" é, ainda assim, um motivo pertinente para percebermos por onde andam estes Golpes que apareceram a unir o pop/rock português dos anos 80 ao rock nova-iorquino dos anos 00 (ler: The Strokes). Mais do que isso até, serve mais para anteciparmos para onde vão.
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