Reabilitação da encosta do Casal Ventoso ficou-se por um quinto do projecto original

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Empresa que ganhou obra faliu e o projecto acabou por ser reformulado ricardo silva

Grande parte das contrapartidas da Valorsul à Câmara de Lisboa foi canalizada para aquisição de camiões de lixo

Passou um ano sobre a requalificação da encosta do Casal Ventoso, em Lisboa, mas o local continua a ser pouco frequentado pelos moradores da freguesia do Santo Condestável, ou pelos residentes da Rua Maria Pia, que fica no topo. O plano de Parque Urbano para o Vale de Alcântara, com 15 hectares, chegou a estar em execução, em 2004, foi interrompido, abandonado e reformulado, sendo retomado em 2009. Porém, a intervenção ficou-se pelos 3,4 hectares - ou seja, cerca de um quinto do que estava previsto.

A construção do Centro de Triagem da Valorsul, no Vale do Forno, Lumiar, pela empresa que faz o tratamento e a valorização dos resíduos sólidos urbanos de diversos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, gerou contrapartidas financeiras de três milhões de euros a favor do município de Lisboa, e ficou decidido pelo executivo camarário, então liderado por Pedro Santana Lopes (PSD), que parte desse dinheiro seria utilizado para a construção daquele parque urbano numa zona que diz-se ser ainda pouco seguro, após ter sido o "hipermercado" da droga na capital.

A Valorsul pediu o projecto ao gabinete Biodesign, e a obra ficou orçamentada em 2,4 milhões de euros. O presidente da comissão executiva da Valorsul, João Figueiredo, disse ao PÚBLICO que "foi opção política de Santana Lopes". "Encomendámos e pagámos o projecto, no valor de 200 mil euros."

Foi lançado concurso público e consignada a empreitada à empresa Acoril, como consta do Boletim Municipal (17 de Junho de 2004). A obra teve início em Agosto do mesmo ano. O gabinete do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, especifica que os trabalhos foram suspensos em Janeiro de 2005, "visto que foram detectados problemas de estabilidade, pelo que foi encomendado um estudo de avaliação da estabilidade da encosta".

Foi a última vez que ali houve trabalhos, já que, diz o gabinete do vereador, "a empresa adjudicatária Acoril entrou em processo de insolvência [Abril de 2007], sendo anulado o contrato."

Em 2007 foi pedido à Biodesign que reformulasse o projecto inicial, tendo em conta uma requalificação paisagística sem o cariz de parque urbano e com uma intervenção mais expedita e confinada entre as ruas Costa Pimenta, Maria Maria e Guilherme Anjos.

"Pagámos o novo projecto, de 37.500 euros, segundo ficou [escrito em protocolo] com o presidente António Costa. Fizemos o que a câmara entendeu, e o valor final ficou em 660 mil euros", disse ao PÚBLICO o administrador da Valorsul. João Figueiredo explicou ainda que "havia um diferencial face à verba inicial, mas a CML entendeu que devia ser gasto em veículos de remoção de veículos sólidos urbanos e pediu que fosse gasto em equipamento, pelo que ainda hoje há um valor remanescente de 500 mil euros, às ordens da CML".

O arquitecto paisagista Jorge Cancela explicou ao PÚBLICO que o projecto original "era celebrizar a paisagem": "Há ali registos da presença do homem do Paleolítico, da fauna e flora. Queríamos sacralizar esse grande tema, não só com espaço público, que previa equipamentos desportivos e interpretativos, mas também com esculturas gigantes de animais, que poderiam ser vistas de longe."

Pedro Cegonho, presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável, admite desconhecer como era o projecto inicial para a encosta, mas também admite que "não é de utilização massiva, ou não tem a frequência que desejaria". Porém, acredita que corresponde às expectativas da intervenção que ali foi feita, porque ajudou a consolidar os terrenos da encosta: "Vemos gente a utilizar os caminhos, na ligação com os bairros na Avenida de Ceuta." Na encosta foram plantadas 600 árvores e mais de 16 mil arbustos.

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