Alguém que nos explique, por favor, a insistência da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood em ignorar sobranceiramente filmes objectivamente excelentes para atribuir o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro a obras menores ou pouco interessantes - é o caso da "colheita" de 2011, este "Num Mundo Melhor" que cumpre na perfeição o "caderno de encargos" do filme bem-intencionado e bem embalado, com tudo no sítio, mas com uma ausência dramática de coisas para dizer.
O filme da dinamarquesa Susanne Bier é um melodrama familiar sobre dois miúdos inteligentes e sensíveis, confrontados por um lado com a violência do quotidiano e por outro com famílias em desintegração (Christian perdeu a mãe, os pais de Elias estão a divorciar-se). Isto por si só não é um problema, não se desse o caso de Bier atirar para a panela um pai ausente que é "médico sem fronteiras" no Sudão, num desenvolvimento supérfluo que descentra a história para lá do que é realmente fulcral e sobrecarrega uma narrativa demasiado desmultiplicada em pequenas histórias, tornando "Num Mundo Melhor" numa espécie de "Babel" mais sóbrio ao qual nem falta a caução de uma banda-sonora "étnica" (particularmente irritante, por sinal). A sinceridade dos actores e a competência técnica generalizada apenas sublinham a confusão que vai pela cabeça de Bier e do seu argumentista, Anders Thomas Jensen.
E agora perguntamos: nem sequer se nomeia "Dos Homens e dos Deuses", ignora-se "Canino", e dá-se o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro a isto?