Nove mortos em manifestação em Kandahar contra queima do Corão

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Em Cabul, três rebeldes foram mortos numa tentativa de ataque a uma base da NATO Ahmad Masood/Reuters

Não são ainda claras as circunstâncias em que ocorreram as mortes de hoje, mas jornalistas no local contam que a manifestação, de vários milhares de pessoas, se dividiu em vários grupos pelas ruas da cidade, tendo sido ouvidos disparos em várias zonas.

Um jornalista da AFP adianta que um dos grupos avançou para a sede do governo provincial e outro na direcção dos escritórios da missão da ONU (Unama) na cidade. A polícia, destacada em força para a rua, conseguiu barrar o caminho aos manifestantes, mas pouco depois eram ouvidos disparos e vários edifícios terão sido incendiados.

Ao início da tarde, o número de manifestantes na cidade diminui – eram já escassas centenas – e as autoridades locais faziam um primeiro balanço da violência, os mais graves na cidade em vários meses: nove mortos e 73 pessoas hospitalizadas.

Estes incidentes são os mais graves dos últimos meses em Kandahar, cidade que foi berço e bastião do regime taliban e aonde no Verão passado chegaram boa parte dos 30 mil reforços militares enviados pelos EUA. O reforço da presença militar permitiu à NATO entrar em distritos até há pouco controlados pelos taliban e lançar projectos de desenvolvimento com o objectivo de retirar aos rebeldes as suas bases de apoio na região.

Ataque à ONU sob investigação

As manifestações de hoje, que se estenderam também a Cabul – onde três pessoas foram mortas durante uma tentativa de ataque a um dos quartéis da ISAF – surgem um dia depois de 12 pessoas terem morrido em Mazar-i-Sharif, capital da província de Balkh e tida como uma das mais seguras do Afeganistão.

Os protestos, que começaram após as orações de sexta-feira, degeneraram em violência quando um grupo de manifestantes tentou entrar na sede da Unama na cidade. Os soldados que protegiam o local terão disparado contra os manifestantes, antes de serem dominados pela multidão que se apoderou das suas armas e entrou depois no edifício. O incidente, que está agora a ser investigado, resultou na morte de sete pessoas que trabalhavam para a ONU – quatro guardas nepaleses e três funcionários europeus – e de pelo menos cinco afegãos. Na cidade foi decretado o estado de emergência e a polícia anunciou a detenção de 27 pessoas.

Os protestos surgem em resposta ao gesto do pastor Wayne Sapp, que no mês passado queimou um exemplar do livro sagrado do islão numa igreja do estado da Florida. Durante a queima estava presente o polémico pastor Terry Jones, que no último aniversário do 11 de Setembro prometera também incendiar o Corão, levando mesmo a uma intervenção do Governo norte-americano.

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