Chegaram a Lisboa e Açores vestígios da nuvem radioactiva, mas sem perigo para a saúde
Através de uma estação de amostragem no campus do ITN em Sacavém, foram sugadas várias formas (ou isótopos) de elementos radioactivos, como césio, iodo e telúrio. Quarta-feira foi detectado iodo e esta quinta-feira surgiram os outros elementos radioactivos.
O resultado das medições de ontem pode ser visto num gráfico na página do ITN na Internet, em que cada pequeno pico é a assinatura de um elemento radioactivo.
“Estamos a ver uma quantidade — e gostava de deixar isto bem claro — muito baixinha de isótopos radioactivos”, disse Pedro Vaz, responsável pela Unidade de Protecção e Segurança Radiológica do ITN. “Numa situação em que fossem inalados em contínuo [durante um ano], representariam doses muitíssimo baixas.”
Até que ponto baixas? “São muito abaixo de um milésimo da dose máxima admissível para membros do público”, responde Pedro Vaz. Ou seja, são doses bastante inferiores a um milésimo de um milisievert, que é a dose máxima de radiações artificiais admitida por ano para quem não tem um trabalho que o exponha a materiais radioactivos. Aliás, para se perceber o que está em causa, refira-se que para esses trabalhadores a dose máxima por ano é de 20 milisieverts.
Além disso, o que resta da nuvem — libertada entre 12 e 15 de Março de Fukushima — já percorreu milhares de quilómetros até chegar à Europa. Depois de atravessar o Pacífico, passou pelos Estados Unidos e cruzou o Atlântico. “E os vestígios do que inicialmente foi uma nuvem não vão ficar em cima das nossas cabeças. Vão continuar o seu percurso e vão-se dispersar ainda mais”, sossega Pedro Vaz.
Também um detector nos Açores, em Ponta Delgada, já mediu alguns vestígios de Fukushima. Operado pelo ITN, esse detector é da Organização do Tratado Alargado de Proibição dos Testes Nucleares, uma agência da ONU em Viena, Áustria, com estações pelo mundo. Embora ainda sem acesso a esses dados enviados para Viena, Pedro Vaz disse que recebeu confirmação de que o detector “mediu alguma coisa”. Mas os valores, acrescentou, não serão diferentes dos detectados no campus do ITN.
Os restos da nuvem podem ter começado a chegar a Portugal há uma semana, como indicavam os modelos de dispersão atmosférica. “Não posso garantir, mas provavelmente começaram a passar na semana passada. A ter-se verificado, [os valores] estariam abaixo do limite de detecção do equipamento.” Nesse caso, seriam ainda mais baixos dos agora medidos ou, então, pode ter-se dado o caso de a nuvem ter seguido outro caminho.
Notícia actualizada às 20h24