Há plutónio no solo da central de Fukushima e no mar foram encontradas mais substâncias radioactivas
A crise na central nuclear japonesa, que já dura há mais de duas semanas, continua longe do fim: as novidades centravam-se ontem na descoberta de cinco locais, no interior de Fukushima, com o solo contaminado por plutónio. É uma quantidade mínima e não coloca perigo para a saúde, garante a empresa que explora a central nuclear, mas esta é mais uma má notícia relacionada com as fugas radioactivas em três dos reactores afectados pelo sismo de 11 de Março.
A taxa de plutónio nos cinco locais submetidos a amostras é equivalente à detectada no Japão depois dos ensaios nucleares em países vizinhos, como a Coreia do Norte, e os trabalhos na contenção desta que é a pior crise nuclear a seguir ao acidente de Tchernobil, em 1986, na Ucrânia, vão continuar, disse um porta-voz da Tokyo Electric Power Company (Tepco), citado pela AFP.
"As amostras revelaram a presença de plutónio 238, 239 e 240. As concentrações baixas não representam perigo para a saúde", acrescentou o porta-voz. "Pensamos que existe uma forte probabilidade de pelo menos em duas das amostras haver uma ligação directa com o acidente na central."
O reactor número três funciona com uma mistura de plutónio e urânio, pelo que os especialistas o consideram mais perigoso. Mas o plutónio agora detectado no solo pode também ter tido origem nos problemas nos outros reactores, uma vez que convertem urânio em plutónio.
Parte das barras de combustível que compõem os núcleos dos reactores 1, 2 e 3 derreteram - quando ficaram sem água que os arrefecesse na sequência do sismo, que destruiu o sistema eléctrico - e tiveram de ser arrefecidos recorrendo a água do mar como emergência. Mas esse aquecimento levou à formação de vapor de água e hidrogénio e aumentou a pressão dentro dos reactores, o que forçou as autoridades japonesas a abrir as suas válvulas e ventilá-lo de vez em quando. Só que essas ventilações libertaram materiais radioactivos.
Também das barras de combustível usadas, a arrefecer nas piscinas dos reactores, perto dos núcleos, podem ter-se libertado materiais radioactivos. Deram muitas dores de cabeça nos dias após o acidente, pois era preciso reabastecer as piscinas com água e impedir que as barras ficassem descobertas e derretessem. A juntar a tudo isto, pensa-se que o reactor 2 tem uma fuga: não é nas câmaras que servem de barreira física ao núcleo, mas é algures no reactor.
Para além da contaminação com plu- tónio, a televisão japonesa HNK noticiou que se tinham detectado mais substâncias radioactivas na água do mar, perto da central. Recolhidas a 30 metros de uma das saídas de água da central, no domingo, essas amostras tinham 46 becqueréis por metro cúbico de iodo-131. "A água do mar tinha iodo-131 que excedia o regulamentado em 1150 vezes", diz o Fórum Atómico e Industrial do Japão. Níveis elevados de iodo radioactivo foram também detectados no mar há alguns dias, perto de outras saídas de água da central.
A água radioactiva que se acumulou nos edifícios dos reactores, durante o combate para os arrefecer a todo o custo, é agora outra das dores de cabeça. A Tepco procura remover essa água, para poder restabelecer o funcionamento do sistema de arrefecimento permanente dos reactores.
No edifício do reactor 3, a água tinha uma radioactividade superior a 1000 milisieverts por hora, enquanto no edifício do reactor 2 era de 750 (o limite para os trabalhadores que tentam conter este desastre é de 250 milisieverts por ano). "Num quarto de hora, quem estiver ao lado dessa água, apanha a dose máxima autorizada por ano", explicou Thierry Charles, director do Instituto de Radioprotecção e de Segurança Nuclear francês.