Operadora de Fukushima diz que se enganou ao estimar os níveis de radiação
Nos últimos dias, os funcionários que tentam estabilizar a central de Fukushima Daiichi depararam-se com mais um problema: a formação de poças de água altamente radioactiva nos edifícios das turbinas de alguns reactores. Por enquanto, a operadora da central, Tepco (Tokyo Electric Power Company) admite que não sabe de onde, exactamente, vem aquela água, algures do interior do edífício do reactor.
Hoje, a Tepco ordenou a suspensão dos trabalhos e a evacuação da central depois de um funcionário ter detectado água contaminada com uma radiação superior a mil milisieverts por hora no edifício da turbina, adjacente ao reactor 2. Quatro horas de exposição a um ambiente com esta radiação aumentaria o risco de morte no espaço de 30 dias. Inicialmente, a empresa avançou que este valor era dez milhões de vezes mais elevado do que o normal.
Mas horas depois, a Tepco convocou, de urgência, uma conferência de imprensa para admitir que se tinha enganado no número de "dez milhões" de vezes. Não obstante, a concentração superior a mil milisieverts por hora está correcta, garantiu a Tepco. O vice-presidente da empresa, Sakae Muto, explicou que os elementos radioactivos foram confundidos durante a análise às amostras recolhidas, informou a agência de notícias Fiji, citada pela AFP. "Houve uma confusão entre o iodo-134 e o cobalto-56", disse Muto que anunciou novas análises para breve.
"Havia uma suspeição de que a leitura do iodo 134 era demasiado elevada. Por isso estamos a rever os nossos testes", disse o porta-voz da Tepco, Takeo Iwamoto, ao jornal "New York Times". O responsável adiantou que a central vai realizar novamente análises a todas as substâncias detectadas na água detectada no edifício da turbina e actualizar os dados "o mais depressa possível". "Lamentamos muito o sucedido", acrescentou.
Continuam os trabalhos em Fukushima DaiichiHoje, os funcionários tentaram retirar para reservatórios a água radioactiva que se está a acumular no interior dos edifícios de alguns dos reactores nucleares danificados pelo sismo e tsunami de 11 de Março. O porta-voz do Governo, Yukio Edano, reconheceu hoje em conferência de imprensa que isto implicará um atraso nos trabalhos na central. "É preciso tempo para retirar aquela água, garantindo sempre a segurança dos funcionários", disse, citado pela agência AFP.
Além disso, os trabalhadores continuam a tentar recuperar o sistema eléctrico da central. Segundo informações recolhidas pela agência Kyodo, os funcionários querem hoje ligar as luzes na sala de controlo do reactor 4. Entretanto continua a introdução de água doce nos tanques que armazenam as barras de combustível usado nos reactores 1,2,3 e 4. A Tepco vai também tentar introduzir água doce nos reactores 1, 2 e 3 usando sistemas de bombagem eléctricos, em vez dos canhões de água dos bombeiros usados até agora. Os sistemas eléctricos permitem aos funcionários gastarem menos tempo e energia a operar as máquinas no local, reduzindo assim o risco de exposição à radioactividade.
Fora da central também foram detectados níveis de radioactividade mais elevados. Na sexta-feira, amostras à água do mar a 330 metros de Fukushima Daiichi revelaram concentrações de iodo-131 que eram 1250 vezes superiores aos limites considerados normais; ontem essas concentrações subiram para 1850 vezes o limite legal, disse a agência japonesa de segurança nuclear.
Hidehiko Nishiyama, da agência de segurança nuclear, disse que não pode negar a possibilidade de materiais radioactivos continuarem a ser despejados no mar, apesar de não estar claro por onde é que estão a escapar. "Os níveis de radiação estão a aumentar e é preciso tomar medidas", disse, citado pelo "New York Times". Mas, por enquanto, não há necessidade para haver preocupações com a saúde, garantiu.
Actuação do Governo desaprovada por 58 por cento dos japoneses, revela sondagemUm total de 58,2 por cento dos inquiridos não aprovam a forma como o Governo japonês está a lidar com a crise nuclear, enquanto 39,3 por cento disse aprovar, revelou uma sondagem realizada pela agência Kyodo e divulgada hoje.
A sondagem - realizada por telefone durante este fim-de-semana em todo o país - concluiu que 19,6 por cento dos inquiridos não aprova de todo e 38,6 por cento não aprova muito a maneira como o gabinete do primeiro-ministro Naoto Kan está a responder à crise nuclear em Fukushima.
Quanto ao apoio às vítimas do sismo, 57,9 por cento aprova aquilo que o Governo nipónico está a fazer. Por seu lado, 31,9 por cento afirma que não valoriza muito a resposta do Executivo e 7,3 por cento desaprova de todo.
Segundo o mais recente balanço da Polícia Nacional japonesa, o sismo e tsunami fizeram 10,804 mortos. De momento, 16.244 pessoas estão desaparecidas.
Os números, citados pela estação de televisão japonesa NHK, revelam que só na província de Miyagi morreram 6565 pessoas. Na província de Iwate estão confirmados 3213 mortos e em Fukushima 968.
Até ao momento já foram identificados 7270 corpos.
Notícia actualizada às 17h25