Micmacs

Não são poucos os que olham para o francês Jean-Pierre Jeunet como um estilista barroco e folclórico, como se o realizador de "Delicatessen" (assinado a meias com Marc Caro) e "O Fabuloso Destino de Amélie" não passasse de um menino perdido nos seus brinquedos, mais interessado na forma do que na função. É injusto para Jeunet - nenhum dos seus filmes teria mexido com tanta gente se fossem meras curiosidades descartáveis - mas, paradoxalmente, "Micmacs - Uma Brilhante Confusão" acaba por dar razão a apreciadores e detractores do realizador.


A história de um rapaz azarado que recruta um grupo de excêntricos "extraviados" da sociedade para se vingar dos fabricantes de armamento responsáveis pela sua desgraça, o filme alinha uma sucessão de quadros burlescos meticulosamente organizados e virtuosamente apresentados, mas sem uma história sólida que os consiga articular nem personagens definidas para lá do boneco caricatural. Mas é difícil não olhar para o engenho arregalado que Jeunet e a sua equipa e elenco de luxo assumem sem sermos contagiados pela bonomia marota de que esta sátira ingénua mas sincera à indústria do armamento faz prova. Não vai ser por aqui que o realizador convence os desconfiados nem desilude os ferrenhos, mas a fervilhante invenção visual de "Micmacs" (que chega a Portugal inexplicavelmente desamparado) compensa em muito tudo o mais que lhe falta.

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