Onda de calor na Rússia durante o Verão de 2010 teve causa natural
Entre Julho e Agosto do ano passado a região da Rússia sofreu temperaturas muito acima da média, entre os 35 e os 45 graus célsius. Morreram 56 mil pessoas, o rendimento agrícola dos cereais desceu 40 por cento, precipitando o preço dos produtos, e largas áreas ficaram queimadas por incêndios devastadores.
Durante a catástrofe as notícias punham a culpa nas alterações climáticas. O aumento de gases com efeito de estufa na atmosfera estaria na base deste fenómeno, mas o estudo de uma equipa da Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera (NOAA, sigla em inglês), nos Estados Unidos, aponta para outra direcção.
“Este acontecimento parece ser devido maioritariamente a um processo dinâmico da atmosfera que produz e mantém um fenómeno de bloqueio duradouro”, explicam os autores no artigo. Este bloqueio atmosférico manteve uma camada de ar subtropical a latitudes mais a norte e impediu durante várias semanas as tempestades de Verão que vêm do Pólo Norte de atingir a região.
“O conhecimento prévio das tendências climáticas da região e os níveis actuais das concentrações de gases com efeito de estufa não nos ajudariam a antecipar a onda de calor de 2010 na Rússia”, disse em comunicado o primeiro autor do estudo Randall Dole, do Laboratório de Investigação de Sistemas da Terra (ESRL, sigla em inglês), pertencente ao NOAA, em Boulder, Colorado, Estados Unidos. “Assim como as temperaturas do oceano ou o estado do gelo oceânico no início do Verão não sugeriam o que estava para acontecer.”
A Rússia, ao contrário de outras regiões do mundo, não tem visto aumentar a temperatura média no Verão no último século. O fenómeno que ocorreu no ano passado é igual a outras ondas de calor que acontecem desde que há registo em 1830. Ou seja, é um produto da variabilidade do clima
Mesmo assim, os autores tentaram perceber se as alterações climáticas iriam tornar o Verão da Rússia mais quente. Para isso utilizaram o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas para prever a probabilidade de vir a existir ondas de calor semelhantes às que aconteceram na Europa em 2003 – que os cientistas já relacionaram com as alterações climáticas.
Os resultados mostram que temperaturas extremas de mais três graus célsius para o mês de Julho podem começar a ocorrer uma vez em cada dez anos já esta década. A tendência é para estes fenómenos virem a ser ainda mais frequentes ao longo do século. “Parece que partes da Rússia estão à beira de um período em que o risco de ondas de calor extremas vão aumentar rapidamente”, disse o co-autor do estudo, Martin Hoerling, também da ESRL.