Plágio leva à queda do ministro alemão da Defesa

Foto
"Esta é a decisão mais penosa da minha vida", disse Guttenberg Fabrizio Bensch/ REUTERS

O popular Karl-Theodor zu Guttenberg demite-se, deixando a chanceler sem um trunfo importante para eleições estaduais

Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro-estrela do Governo de Angela Merkel e um dos mais populares políticos da Alemanha, foi travado na sua trajectória política ascendente, demitindo-se ontem, na sequência de um escândalo de plágio.

Depois de duas semanas de presença assídua nas primeiras páginas dos jornais por causa da cópia de largas partes da sua tese de doutoramento, Guttenberg ficou mais conhecido como o "barão do copy-paste" ou "Zu Googleberg". Um rude golpe para o político de 39 anos que era considerado o sucessor previsível de Angela Merkel na chancelaria de Berlim. Mas se para Guttenberg o caso levou a que deixasse o acarinhado cargo no Governo, a chanceler é especialmente afectada pela sua demissão.

Angela Merkel, que tinha apoiado publicamente Guttenberg, reconheceu que tinha ficado "chocada" com a notícia da demissão. Um fotógrafo da agência Reuters apanhou aliás a expressão de desalento da chanceler quando leu um SMS no seu telemóvel durante uma visita à feira de tecnologia Cebit. Um pouco depois Merkel afastou-se para fazer um telefonema e pensa-se que terá sido aí que foi informada da decisão do seu ministro.

"Vejo-o partir com tristeza", comentou. Mas contrapôs: "Estou convencida de que no futuro vamos ter ocasião de trabalhar juntos, de um modo ou de outro." Guttenberg "é alguém dotado de competências extraordinárias em política, e tem um dom extraordinário para tocar o coração das pessoas e de as interessar por política", elogiou a chanceler. Não há ainda um nome para substituir o ministro cessante.

Guttenberg é acusado de não ter lidado com o escândalo do melhor modo, começando por tentar esquivar-se às acusações. Mas estas só foram piorando, com novas descobertas - um site permitia mesmo ver a tese de Guttenberg e comparar com os trechos copiados, e calculava que 20 por cento não era material original. Ontem, o ministro acabou por sucumbir à pressão. "Esta é a decisão mais penosa da minha vida", disse.

O ex-ministro pode voltar a ter uma carreira política, sublinha o editor de opinião do jornal Der Tagesspiegel, Malte Lehming. "Guttenberg ainda é jovem. E enquanto uma vida está firmemente atrás dele, ainda há muitas vidas possíveis no horizonte. A Alemanha, com a sua séria falta de talento político, dificilmente prescindirá dele a longo prazo."

Quem fica neste momento numa po- sição pior é a própria chanceler, que contaria com este talento para a ajudar a conseguir votos em várias eleições em estados-federados (Länder) deste ano. Três destas eleições são neste mês, incluindo a mais importante de todas, em Baden-Würtemberg, a 27 de Março, no chamado "superdomingo eleitoral". A CDU (União Democrata-Cristã) está no poder no estado da Bosch e da Porsche desde 1953. Mas agora está em queda, ameaçada pela subida do apoio aos Verdes, ajudados pela contestação a um polémico megaprojecto para a estação de Estugarda. Analistas evocam a hipótese da CDU poder perder o estado, o que seria um autêntico terramoto político.

Tudo isto acontece enquanto decorrem, a nível europeu, conversações sobre a flexibilização do fundo de ajuda da zona euro, esperando-se um acordo de duas cimeiras, a 11 e 26 deste mês. A Alemanha tem mostrado falta de vontade em alterar os termos da ajuda; uma disposição que poderá ser fortalecida por estas dificuldades internas. Os eleitores alemães vêem-se como os principais contribuintes para os países em crise, e Merkel quer evitar a imagem de que a Alemanha é a grande financiadora destes estados.

Sugerir correcção