Alguns livros da biblioteca pessoal de Hitler
D. Quixote, Cervantes
Hitler gostava especialmente de uma edição do livro de Cervantes com ilustrações de Gustave Doré. Timothy Ryback nota a ironia desta predilecção: "D. Quixote é a história de um homem que vive obcecado com livros, que enlouquece, que sai para o mundo para o moldar à sua imagem e que traz desgraça aos seus e a si próprio." A descrição poderia ser aplicada a Hitler que, "de um modo mais terrível, entrou numa voragem quixotesca para mudar o mundo".
The Passing of the Great Race, Madison Grant
Hitler disse que o livro de 1916 do norte-americano Madison Grant era a sua "Bíblia". O best-seller tinha tiradas como: "Falar inglês, usar boas roupas, ir à escola e à igreja não transformam um negro num homem branco". A tese de Grant é que a demografia é a força mais poderosa do mundo: "Mais do que política, mais do que história, do que qualquer líder, qualquer governo, qualquer força militar, porque evolui em gerações e dá forma a continentes", explica Ryback, notando que foi notória a influência de Grant em discursos de Hitler.
Guia Arquitectónico de Berlim, Max Osborn
O guia turístico e arquitectónico de Berlim acompanhou Hitler toda a vida. Comprou-o quando era um jovem cabo na frente ocidental, em 1915. Ryback conta que as suas páginas ainda têm marcas de parafina (era lido à luz de velas) e sujidade da trincheira. Hitler chegou a seguir "sugestões" de Osborn, que no livro criticava uma distribuição de obras na Galeria Nacional; quando chegou ao poder, Hitler redistribuiu-as. O livro acabou incluído entre as obras proibidas: Osborn era judeu (em 1940, emigrou para os EUA). "Não acredito que Hitler soubesse quem era Osborn quando comprou o livro", diz Ryback. Mas não tem mais pormenores sobre este caso. "É uma pequena ironia", diz.
História de Frederico, o Grande, Thomas Carlyle
A biografia de Frederico, o Grande, era um dos vários livros que Hitler levou para o seubunker, na Primavera de 1945. O livro conta a história do rei da Prússia, que enfrentava uma derrota que parecia certa. Mas há uma reviravolta e ele é salvo pelo "milagre de Brandemburgo", quando morre a sua inimiga, a czarina Isabel. No bunker, cercado pelos inimigos, Hitler recebe a notícia da morte de Roosevelt. Talvez tenha imaginado que seria o seu milagre, diz Ryback. Mas não é possível saber com certeza. Certo é que 18 dias depois, o ditador percebe que a derrota é certa e suicida-se. Obras completas
de Shakespeare
"Uma das descobertas espantosas foi deparar-me com a colecção pessoal de Hitler das obras completas de Shakespeare, com pequenas suásticas na encadernação a couro", diz Ryback. Hitler citava muitas vezes o dramaturgo britânico e dizia mesmo que Shakespeare era, a seu ver, superior aos alemães Goethe ou Schiller. Mas não havia notas nos volumes desta colecção: Hitler terá conhecido Shakespeare através sobretudo de representações ao vivo e não lendo os livros.
Colecção de Karl May, popular autor alemão de westerns
Uma anedota mostra a veneração de Hitler por este popular autor de livros de índios e cowboys: "Na Alemanha havia uma grande tradição de estudo militar, de tratados [dos estrategas] Von Clausewitz e Von Schlieffen", conta Ryback. "Mas Hitler chegou a dizer-lhes que precisavam de mais imaginação: "Têm é de ler Karl May!". Isso mostra quão limitadas eram as suas capacidades intelectuais." Havia quem dissesse que Hitler procurava consolo nos livros de Karl May como algumas pessoas o faziam na Bíblia. M.J.G.