Phnom Penh, a cidade Fénix

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Camboja, Abril de 1975: Liderados por Pol Pot, os temerários khmer vermelhos incitam a população de Phnom Penh a abandonar as suas casas anunciando, através de altifalantes, que, à semelhança do que acontecia no vizinho Vietname, o bombardeamento da cidade pelas tropas americanas é iminente. Em massa, a população parte em direcção a zonas rurais onde involuntariamente se aprisiona numa versão de socialismo agrário, um dos ideais do regime comunista de Pol Pot. A capital do Camboja fica então praticamente deserta e uma cortina silenciosa cai sobre o país. O dinheiro é abolido, inicia-se o Ano Zero e as fronteiras são fechadas sem que ninguém possa testemunhar o sofrimento imposto a milhares de cambojanos empurrados para uma era de escuridão onde um quarto da população (entre 1,7 a 2 milhões de pessoas) é exterminada em quatro anos perante a passividade mundial, que assiste, indiferente, a um dos maiores genocídios da história.

Hoje, 31 anos depois, Phnom Penh é uma cidade em ascensão. Uma cidade vibrante e sedutora onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas, uma Fénix renascida das cinzas para mostrar ao mundo que foi capaz de se reinventar e de substituir a amargura pela luminosidade dos sorrisos dos seus habitantes que, apesar de tocados por fantasmas do passado, são um dos povos mais simpáticos e cativantes que conheço.

Chegámos a Phnom Penh de autocarro vindos da paradisíaca Kho Russei (Bamboo Island) em pleno Golfo da Tailândia. A monção brindou-nos com as derradeiras chuvas desse ano e demorámos quatro horas a chegar ao centro da cidade, onde, entre outras variadíssimas actividades, cantámos karaoke em khmer para ajudar a passar o tempo.

Ficámos instalados num pequeno boutique hotel numa zona central muito agradável onde se pode fazer compras, comer, pernoitar e usufruir de massagens relaxantes em magníficas casas coloniais francesas. A belíssima capital cambojana oferece de tudo a todos os preços e para todos os gostos.

Durante dois dias vagueámos pelas ruas e avenidas de Phnom Penh que nos conduziram ao Museu Nacional (onde vimos raros artefactos khmers e angkorianos) e aos deslumbrantes jardins tropicais onde se inserem o Palácio Real, um excelente exemplo da arquitectura khmer clássica, e a Silver Pagoda, casa do Buda Esmeralda cambojano. Numa rua ladeada por buganvílias, entrámos na temível S21, a prisão política de Pol Pot, hoje rebaptizada como Tuol Sleng Genocide Museum, um recordar da história dramática do país e uma homenagem às muitas vítimas do regime de então que aqui foram torturadas e pereceram. A visita à S21 é dura mas vale a pena, nem que seja para ter uma real percepção do que aqui se passou. Muitos visitantes, nós incluídos, detinham-se ao longo dos corredores para respirar fundo e lamentar, incrédulos. Há cambojanos que aqui acorrem apenas para contemplar a única fotografia existente de um familiar ou amigo.

Visitámos ainda alguns dos apelativos mercados de Phnom Penh, onde se pode perder horas a descobrir e a regatear. Em quase todos eles existe uma área destinada a refeições carregadas de exotismo para deleite do paladar. Psar Thmei, ou Mercado Central, é uma verdadeira jóia de arquitectura Arte Deco que merece sem dúvida uma visita.

Ao entardecer, os habitantes da cidade reúnem-se na marginal às margens do rio Tonlé Sap para sessões de dança improvisada e sincronizada, tai chi, aeróbica ou ainda para prestar culto numa das muitas pagodas aí existentes. Os maus tempos passaram e a população de Phnom Penh só espera que os actuais bons momentos se tornem ainda melhores.

Isabel Brás

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