Ella e Frank

Foto

Como homem, leio sempre a entrevista de Ana Sousa Dias na PÚBLICA. Quando é um homem, conta "o que sei sobre as mulheres" e eu, competitivo e convencido, dou-lhe uma nota de zero a vinte sobre a capacidade de fugir à pergunta, já que todas as respostas estão erradas. Quando é uma mulher, como foi no domingo com Ana Bacalhau, a cantora dos Deolinda, a questão é "o que sei sobre os homens". Aí, tento aprender o que cada mulher - nunca "as mulheres" - sabe, sem ter feito grande esforço, sobre o sexo masculino em geral, que tem muito mais parecenças, seja homo, hetero ou neutrossexual, do que o feminino.

Disse a Ana Bacalhau, um nome que parece responder democraticamente ao de António Sardinha: "Quando ouço Frank Sinatra, fico a conhecer muito menos do homem do que quando ouço Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughan". É verdade e é mentira. Sinatra canta como um homem que quer seduzir uma mulher, parecendo que está apaixonado por ela. Nada de novo. Só o fingimento é sincero. É ousadia e lata e uma voz tão alta e tão forte como a figura é baixa e fraca: a essência da pretensão masculina.

Ella Fitzgerald (a maior cantora popular do século passado) e Sarah Vaughan (uma das mais perfeitas, mas preguiçosa) cantavam para pessoas ou para elas próprias - não para homens ou outras mulheres.

Tanto uma como outra sabiam tanto sobre os homens como os homens sabem sobre as mulheres: um bocadinho de nada, o suficiente. O suficiente para não querer saber mais.

Sugerir correcção