Uma visita inesperada na casa que vai acolher Galeria da Biodiversidade

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A Casa Andresen foi cedida em 1951 à Universidade do Porto Joana Bourgard

O palacete cor de vinho e com bosquetes à entrada, no Jardim Botânico do Porto, recebeu a trineta de Charles Darwin, de férias na cidade. Pode ser um bom presságio para a Casa Andresen, que, a partir de 2012, será uma espécie de museu da história natural, mas diferente

A primeira fase da Galeria da Biodiversidade já está terminada. Depois de seis meses de restauro, o espaço acolhe de Fevereiro a Julho a exposição A Evolução de Darwin, projecto que aproveita para testar a casa enquanto espaço aberto ao grande público.

Camilla Whitworth-Jones é uma das visitantes que percorrem as salas de paredes brancas e chão de madeira, onde se pode ver a vida e a obra do naturalista britânico, ouvindo a explicação de um funcionário do museu. A inglesa de 69 anos tem um interesse especial no que está a ver e é com um sorriso aberto que confirma ser uma das trinetas de Charles Darwin. "Estou de férias no Porto e, assim que cheguei, vi, por acaso, cartazes no aeroporto a anunciar a exposição. Tinha de cá vir", explica ao P2 no restaurante do palacete, com vista para o Jardim do Roseiral.

Na Casa Andresen todos foram apanhados de surpresa com a visita. "Não fazia ideia que estava cá a trineta de Darwin", admite surpreendido Nuno Ferrand Almeida, comissário da exposição, enquanto mostra as instalações da Rua do Campo Alegre que vão acolher a Galeria da Biodiversidade a partir do próximo ano.

"O que vamos fazer será diferente do tradicional museu de História Natural, com um esqueleto de dinossauro ou baleia suspenso à entrada", diz. Na verdade, depois de um período de decadência nos anos de 1950, estes museus começaram a renovar-se a partir de 1980, adoptando novas fórmulas para passar a mensagem.

No caso da Galeria da Biodiversidade, esta "combinará elementos de uma forma inovadora", pretendendo "relacionar a biodiversidade com todas as áreas do conhecimento", desde a saúde às artes, passando pela alimentação, genética, economia, consumo e crescimento populacional. "Queremos reconstruir as histórias destas relações, através da genética e da investigação com base nas colecções", nomeadamente parte do espólio do Museu de História Natural da Universidade do Porto, informa Ferrand Almeida.

Antiga gestora de arte, Camilla Whitworth-Jones confessa que o seu trisavô sempre "foi uma presença forte na família", mas que não influenciou a sua carreira, como aconteceu com outros descendentes, que seguiram a área da biologia ou investigaram a documentação que Darwin deixou. "Quando somos crianças, não ligamos tanto às coisas importantes que temos pela frente", justifica. Tanto mais que, como acrescenta, "nos anos 40 e 50 Darwin não era tão famoso como é hoje".

A descendente do naturalista, que quis tornar a sua visita à Casa Andresen o mais discreta possível e que pediu para não ser fotografada, conta que gostou tanto do que viu no Porto que decidiu doar um livro à exposição. "Achei-a fantástica, especialmente o facto de mostrar as coisas antes de Darwin e como continuaram depois da sua morte."

Sophia é inspiração

Os novos "contos"da Casa Andresen passarão pelo mistério em redor de um corno datado do século XIX, que se acredita ser de palanca-negra-gigante, e pela história do rinoceronte de Albrecht Dürer, desenho de 1515 que marcou a iconografia artística e científica. A extinção dos dinossauros, as extinções dos nossos dias e a importância de Lisboa nos séculos XVI e XVII no descobrimento e exibição pública de novas espécies não serão esquecidas.

Na génese, a inspiração veio de Sophia de Mello Breyner Andresen, que, no conto Saga, fala do seu desejo de ver montado no átrio da casa o "esqueleto da baleia que há anos repousava, empacotado em numerosos volumes, nas caves da Faculdade de Ciências, por não haver lugar onde coubesse armado". A partir de 2008, a casa ficou vazia, quando o Departamento de Botânica saiu dali para as novas instalações. "Tudo aconteceu devido a uma série de coincidências", resume o comissário da exposição.

A equipa responsável pelo projecto da Galeria da Biodiversidade procura inspiração e ideias em outros espaços europeus. "Queremos chegar às pessoas, através de módulos interactivos, exposições permanentes e temporárias, ateliers, workshops e várias iniciativas", conta Ferrand Almeida. Entre elas estará o Observatório da Biodiversidade, onde o público poderá participar na construção de uma base de dados sobre as espécies.

O projecto da Universidade do Porto (UP), que conta com o apoio do município e da Ciência Viva, prevê ainda a criação de um banco de tecidos e de ADN de todas as espécies que ocorrem em Portugal.

Os conteúdos da galeria serão elaborados pela UP. "Vamos começar a preparar a candidatura para conceber o projecto e descrever todos os conteúdos."

Mas há mais por fazer. Um passeio pelos jardins mostra duas estufas do final dos anos de 1950, já em fase final de restauro e, mais à frente, outras estufas ainda de vidros partidos, à espera de recuperação. "Vamos ter de fazer obras no piso térreo do edifício, onde serão instalados os laboratórios e os locais de armazenamento das colecções. Além disso, falta rebocar as fachadas e adaptar uma casa para albergar o e-learning café."

O palacete esteve na família Andresen desde 1895 e foi cedido à UP em 1951, para ali instalar o Jardim Botânico, com quatro hectares. A partir de 2012, o edifício voltará a ter uma vida nova.

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