Talassoterapia, a saúde que ve m do mar

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Grande Real Villa Itália

Portugal é o país ideal para a prática da talassoterapia. Mas os portugueses ainda não estão bem informados sobre os benefícios da água do mar e poucos sabem que um dos melhores cinco centros do mundo é no Algarve. Maria Antónia Ascensão experimentou alguns tratamentos e conversou com quem vai ao mar buscar saúde

Portugal é um país pequeno mas tem uma extensão de costa superior a dois mil quilómetros. Está situado em pleno Atlântico, oceano que tem as águas mais ricas para prática de talassoterapia. "As águas do Mediterrâneo, por exemplo, têm muito pouco poder terapêutico, o mar é morto e, por isso, a água tem menos força e também menos oligoelementos", disse à Fugas Beatrice Pinto, a directora do centro de talassoterapia de Vilalara, considerado pela revista de viagens Condé Nast Traveller um dos cinco melhores centros para a prática de talassoterapia do mundo e distinguido pelos World Travel Awards 2010 como o melhor Spa Resort em Portugal.

A talassoterapia é uma terapia de saúde e bem-estar que faz parte dos dez pacotes turísticos nos quais assenta o Plano Estratégico Nacional de Turismo. Mas, segundo um estudo da Associação Empresarial de Portugal (2009) da Câmara de Comércio e Indústria, Portugal ainda está mal posicionado no ranking dos destinos de saúde e bem-estar, sector liderado pela Itália.

"Falta divulgação sobre o que é a talassoterapia", defende Soraya Ali, do Centro de Talassoterapia da Costa de Caparica. O director do spa do Hotel Real Villa Itália, Cristóvão Silva, também concorda: "Falta divulgação e aconselhamento médico."

A talassoterapia é a utilização combinada da água do mar, o ar marinho e substâncias extraídas do mar, como algas, lamas e areia. O termo talassoterapia provém do grego thalassa (mar) e therapia (tratamento). Embora utilizada pelos gregos e romanos pelos seus efeitos terapêuticos, a prática perde-se no tempo. Em 180 a.C., Eurípedes escrevia que "a água do mar cura as doenças dos homens" e Hipócrates recomendava os banhos quentes de água do mar. Mas só em 1820 é que surgiram os primeiros centros de talassoterapia, tal como os conhecemos hoje, na região francesa da Bretanha.

Em Portugal surgiu em 1990, no Hotel Vilalara. "Na altura, a cultura do spa já estava muito madura em França. O proprietário do hotel na altura, o suíço Léon Levy, resolveu trazer para cá o conceito, sobretudo para atrair clientes no Inverno", recorda Beatrice Pinto. E conseguiram porque o centro de talassoterapia deste resort é frequentado sobretudo por portugueses. "O português foi muito habituado a fazer curas nas termas. Os que aqui vêem são sobretudo aqueles que encaram a talassoterapia como termas, só que com água do mar ".

A descoberta da acção virtuosa do mar no bem-estar físico e mental é a razão do sucesso desta terapia, que conta tanto com tratamentos curativos como preventivos. A água do mar é uma fonte de elementos vitais, devido às suas qualidades biológicas e à composição fisiológica semelhante ao plasma humano - contém 92 dos 120 oligoelementos recenseados, como o magnésio, iodo, lítio, zinco, cobre, selénio e cálcio. Aquecida, entre 32ºC e 36ºC, favorece a penetração dos oligoelementos ao nível da epiderme, reforça o sistema imunitário e proporciona relaxamento muscular e descontracção. Por exemplo, uma pessoa de 80 kg, pesará apenas 20 dentro de água doce e oito dentro de água do mar, o que facilita esforços e permite uma reabilitação mais rápida.

Os centros de talassoterapia têm programas específicos para emagrecer, combater o stress ou tonificar as pernas, mas todos têm médicos que criam programas específicos, adaptados às necessidades de cada pessoa. Para se obterem resultados, os programas têm, em média, a duração de seis dias, sendo que não é aconselhado fazer mais do que quatro tratamentos diários porque, como explica Beatrice Pinto, o corpo tem um limite de assimilação dos elementos do mar - a partir do quarto tratamento há uma saturação e o corpo deixa de assimilar.

Viver melhor

Na Costa de Caparica existe há 16 anos o único centro de talassoterapia do país que não está integrada numa unidade hoteleira. A média de idades de quem frequenta este centro ronda os 60 anos. "Temos pessoas que há anos vêm duas vezes por semana. A maior parte tem uma saúde de ferro e não aparenta a idade que tem, parece que pararam no tempo", diz Soraya Ali, aludindo aos benefícios da talassoterapaia. Aqui também vem quem quer passar um bom momento e relaxar. "Muitos vêm quando estão em situações de stress, simplesmente porque alguém lhes disse que fazia bem, a maior parte nem conhece os benefícios da água do mar. Nós tentamos "educar" e explicar os benefícios desta terapia às pessoas."

A talassoterapia está indicada principalmente para a recuperação corporal; cansaço físico e/ou mental; convalescença médica, cirúrgica ou pós-parto; estados dolorosos, rigidez, dores provocadas por doenças reumáticas ou na sequência de acidentes. "Em casos de stress, por exemplo, no final de uma semana os clientes dizem-nos que "ganham asas"", conta Beatrice Pinto.

Para captar mais gente para o centro, o casal de empresários do centro da Costa de Caparica criou aulas de hidroterapia de grupo há seis meses e "a adesão ultrapassou as expectativas", contam. Esta é também uma forma de tornar os tratamentos mais acessíveis, uma vez que não são comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde - podem ser incluídos no IRS quando prescritos pelos médicos. Os tratamentos de talassoterapia mais baratos custam entre 20 e 40 euros por sessão, sendo que quando adquiridos em pacotes os preços baixam um pouco. µ

±"Não existe nenhum estudo, mas quem lida directamente com as pessoas sabe que quem faz talassoterapaia com regularidade tem mais saúde", referem os responsáveis do centro da Costa de Caparica. Mas faltam normas e regulamentação. Apesar dos poderes terapêuticos da água do mar, esta não está oficialmente equiparada às águas minerais termais. "Somos irmãos, utilizamos as mesmas práticas e técnicas e os centros de talassoterapaia podem ser nossos associados, mas realmente carece de regulamentação", refere o secretário-geral da Associação das Termas de Portugal, João Pinto Barbosa. Este dirigente diz ainda que existe já um grupo de trabalho internacional para a criação de normas para a talassoterapia.

Os estrangeiros estão mais informados

Porque é que os centros de talassoterapia estão quase todos integrados em unidades hoteleiras de cinco estrelas? "É preciso ter em conta que o processo de extracção da água é uma coisa muito complexa e que requer um grande investimento. Mas é um desperdício não aproveitar o facto de sermos o país com a maior percentagem de água do mar relativamente ao nosso tamanho", diz Cristóvão Silva.

Apesar de poucos, os centros portugueses são bem conhecidos no estrangeiro. "O cliente estrangeiro já vem à procura, nomeadamente o espanhol, que está muito mais sensibilizado para este tipo de benefícios - dispensa as massagens e sabe posicionar-se dentro de água, conhece o tempo que deve estar em cada jacto", refere o director do spa do Vila Itália.

Mas esta recarga de energias que a talassoterapia proporciona é interdita a alguns, como é o caso de quem tem problemas cardíacos, hipertiroidismo, hipertensão e problemas de pele (fungos, por exemplo). As grávidas também não devem entrar na água aquecida a 34 graus porque esta pode fazer subir a tensão arterial e, se estiverem em estado avançado de gravidez, podem sofrer um parto prematuro.

Revelados os benefícios, basta começar a usufruir e contrariar a ideia de que os portugueses são "pouco abertos a coisas diferentes", como diz Cristóvão Silva. O sucesso da talassoterapia não se prende a modas, mas à descoberta da acção virtuosa do mar no bem-estar físico e mental. Se no século XX foram as termas, no século XXI é a talassoterapia.

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