Caldas da Rainha: incêndio em prédio sem licença matou família

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Pelo menos 12 pessoas moravam nos pisos superiores do edifício; as mortes ocorreram nas águas-furtadas Foto: Enric Vives-Rubio

Um incêndio num prédio na zona histórica das Caldas da Rainha vitimou, na madrugada de ontem, três pessoas da mesma família. O edifício, na Travessa da Piedade, não tinha licença de habitabilidade e, segundo o presidente da câmara, deveria ser de escritórios e não de habitações. Do incêndio resultaram ainda sete feridos, cinco dos quais foram encaminhados para o hospital.

As vítimas, um casal na casa dos 40 anos e o filho, com 19, viviam num espaço exíguo e com pouca ventilação, o que terá provocado a acumulação de dióxido de carbono. O pai trabalhava numa estufa de roseiras, na zona industrial da cidade, e o filho era diabético. Segundo moradores, a família tinha poucos recursos económicos e beneficiava de apoios de uma associação local que ajuda pessoas em dificuldades.

A sobrelotação do espaço também poderá ter contribuído para o trágico desfecho. Pelo menos 12 pessoas habitavam naquele prédio, que funcionaria como uma pensão clandestina. No rés-do-chão funciona o Recreio Clube, um espaço dedicado ao convívio sénior e para os forcados amadores das Caldas da Rainha.

"O edifício foi acrescentado e reconstruído um piso para ser utilizado como escritórios, mas a utilização para habitação e aluguer de quartos não estava prevista", disse à Lusa o presidente da câmara, Fernando Costa. "Foi pedida autorização para escritórios", mas mesmo essa licença não foi ainda emitida. "Nunca solicitaram sequer vistoria. A câmara desconhecia completamente a utilização daquele espaço para residência", concluiu o líder da autarquia, cujos serviços abriram um inquérito. Segundo a Lusa, a PJ pediu para consultar o processo de obras.

Saltou do telhado

Eram 4h52 quando os Bombeiros Voluntários receberam o alerta de um fogo no prédio n.º 4 da Travessa da Piedade. Três minutos depois, segundo o relatório da ocorrência, chegaram ao local e, nas águas-furtadas do edifício, depararam com três pessoas já sem vida. "Quando chegámos, as vítimas estavam em paragem cardíaca. Ainda tentámos fazer reanimação, mas não conseguimos reanimá-los", disse o comandante dos bombeiros e responsável pela Protecção Civil, José António Silva. A causa provável da morte terá sido a inalação de fumos, não havendo certezas quanto à origem do incêndio. A Polícia Judiciária está a investigar o caso, mas o comando dos bombeiros das Caldas da Rainha já adiantou que a causa provável das chamas terá sido uma vela. O comandante dos bombeiros garantiu que todos os quartos tinham extintor, mas nenhum foi usado.

O incêndio começou num quarto com de 12 metros quadrados, um dos quatro do primeiro andar. Segundo os bombeiros, a chama de uma vela propagou-se a um sofá-cama e depois alstrou a toda a mobília. O fumo chegou às águas-furtadas, onde dormia a família que acabou por morrer. "As águas-furtadas estão completamente pretas, o que evidencia a saída do fumo", disse o comandante dos bombeiros, confirmando que, no quarto onde o incêndio começou, estava apenas uma mulher, de origem ucraniana.

Três mulheres e dois homens foram transportados para o Hospital Oeste Norte. Uma destas mulheres sofreu fracturas nos pés, depois de ter saltado do telhado para outro edifício, escapando assim às chamas. E um homem - filho do proprietário do imóvel - foi levado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, devido a queimaduras numa mão.

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