Lisboa: António Costa muda-se para o Intendente em Março
Foi um António Costa, de alcunha Lamego, quem em 1849 fundou no Largo do Intendente uma oficina de olaria, que mais tarde passou a designar-se por Viúva Lamego. Mais de século e meio passado outro António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, está de malas praticamente feitas para mudar o seu gabinete de trabalho para um antigo armazém da oficina. O objectivo, diz, é "dar confiança às pessoas para investirem" nesta zona de "má fama".
"Isto já está muito melhor", exclama o autarca assim que entra no número 27 do Largo do Intendente, que desde Novembro último está em obras para receber tão notável inquilino. Antes de guiar o PÚBLICO e uma comitiva com perto de uma vintena de pessoas pelo edifício já António Costa se equipou a rigor: do porta-bagagens da viatura de serviço retirou um capacete, um casaco reflector e um par de botas, que calçou praticamente no meio da rua.
Já devidamente trajado, o presidente da câmara sobe escadas acima até ao segundo e último andar, onde com alguma imaginação e a ajuda de uma planta se consegue perceber como ficará o seu gabinete de trabalho. "Isto está muito bonito", diz o autarca, enquanto passeia pelo espaço, marcado por uma chaminé que se decidiu preservar, tal como se fez com alguns painéis de azulejos e com a entrada de um antigo forno que hoje dá acesso a umas instalações sanitárias (obrigando quem lá vai a baixar-se para não bater com a cabeça).
Nos três andares do edifício é visível o trabalho feito, mas também se antevê o muito que ainda há por fazer. "Então só no fim de Março é que me posso mudar", observa com desânimo o presidente, enquanto a engenheira responsável pela obra explica que entre outras coisas falta ainda instalar as infra-estruturas.
Mudar o estigmaAntónio Costa diz que, quando mudar para o número 27 do Largo do Intendente, já só irá aos Paços do Concelho para participar em reuniões do executivo ou cerimónias. "As pessoas precisam de sentir que há um comprometimento efectivo do município e das autoridades para mudar esta zona e o seu estigma", afirma, defendendo que esta sua decisão constitui "um impulso" para a requalificação da área da Av. Almirante Reis.
Por enquanto a vista do edifício não é a melhor, tantos são os prédios degradados que se vêem dos vãos agora abertos (alguns ainda sem vidros), mas o socialista acredita que isso mudará em breve. É também com essa expectativa que só conta ficar no Intendente até ao primeiro semestre de 2013. "Este é um gabinete provisório, para isto se desenvolver e depois retomar a sua vida normal", explica.
A câmara vai pagar um preço baixo pelo aluguer e o futuro inquilino garante que "as pessoas compreenderam bem" a decisão de abandonar a Praça do Município. Os 20 funcionários que o vão acompanhar é que, admite, "não acolheram a ideia com grande entusiasmo".