É ingrato: para os portugueses, o nome de Alain Oulman, filho de pais franceses, nascido em Portugal, é inseparável do de Amália Rodrigues, para quem escreveu alguns dos mais notáveis momentos da música portuguesa do século XX, quando há tanto mais para descobrir na vida de um homem que foi encenador, agente literário, editor, militante anti-fascista quase casual, figura fulcral no Portugal cultural dos anos 1960.
Apesar de Amália ser a porta de entrada (e de saída) deste documentário, Nicholas Oulman, filho do compositor, estrutura o filme cronologicamente para nos dar a conhecer, de modo escorreito e dinâmico, as mútiplas facetas de um homem muito maior do que a legenda "compositor de Amália" daria a entender. Ainda assim, "Com que Voz" sofre de dois problemas: primeiro, a sua conformação formal a um vulgar documentário telvisivo, de "cabeças falantes" cruzadas com imagens de arquivo (pontualmente reveladoras).
Segundo, Oulman nunca consegue resolver a contento o dilema da dupla personalidade de um filme que quer mostrar o homem para lá de Amália, mas não hesita em apoiar-se nisso como argumento principal. Talvez fosse tarefa inútil tentá-lo, mas "Com que Voz" é um esforço mais que honroso.